terça-feira, 26 de maio de 2009

Festa do Divino 10

Mascarados na lateral da Matriz
Sádado do Divino (2009)
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí

     A festa do Divino de Pirenópolis passou por muitas crises recentes, algumas imensas e perfeitamente evitáveis, outras fruto dos tempos modernos.

     Entre as crises evitáveis está a ida para Pirenópolis de padres despreparados, sem prévio estudo das tradições locais e que por isso decidiram palpitar na parte profana da festa. Chegou-se ao absurdo de proibir o imperador de adentrar na Matriz com a coroa na cabeça e de chamar de idólatra o povo que cultuava o Divino na forma tradicional. 

     Depois veio a interferência direta nos sorteios, de forma que só poderiam se candidatar aqueles escolhidos diretamente pelo sacerdote. Com isso a população se afastou e a festa outra vez entrou em declínio. Seguiu uma série de imperadores de faz de conta que somente participavam da parte religiosa da festa. A parte profana ficava por conta do governo do Estado, da prefeitura e dos pirenopolinos.

     O resultado disso tem reflexo até hoje, e basta constatar pela insignificante quantidade gente que acompanha o cortejo do imperador no domingo do Divino. E olha que esse momento da festa já foi disputadíssimo, com longa fileiras de mocinhas vestidas de branco e procissão de gente logo atrás. Agora quase ninguém mais vai, à exceção dos familiares do imperador.

     Recentemente a Igreja se conscientizou da importância de deixar que o próprio pirenopolino tome conta de sua festa. O sacerdote que se mudou para a cidade ainda não enfrentou o desafio duma festa do Divino, mas parece pessoa sensata, que sabe ouvir e conta com um indiscutível carisma influenciador da juventude.

     Entre as crises resultantes dos tempo modernos poderia destacar aqui a limitação cada vez maior da participação dos mascarados na festa. Antigamente eles adentravam no campo com carros (geralmente Jipe ou Rural), em cujos para-choques amarravam uma corda com pneus – e lá iam eles arrastados entremeio patas de cavalos. Naquela época também era comum portarem armas com tiros de festim, subir nas calçadas e até sair pela cidade em desabalada correria. 

     Agora nada disso é mais possível, e por qualquer coisa um mascarado é apeado e preso. Sua entrada no campo ficou restrita aos poucos intervalos das Cavalhadas e assim mesmo por breves instantes. Como consequência, o número de mascados diminuiu assustadoramente, e temo que acabe em breves tempos.

     Aqui cabe uma indagação: qual o futuro da Festa do Divino de Pirenópolis? Será que ela voltará ao explendor de outrora ou sucumbirá de vez, quando as novas gerações tiverem de assumir o papel que herdaram dos antepassados? É uma pergunta que não sei responder. Somente o tempo saberá dizer.

Adriano César Curado

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Festa do Divino 9

Largo da Matriz destruído
Invasão da praça e do salão paroquial
Ao fundo vê-se as duas torres da Matriz
Foto: Adriano César Curado

     A partir da festa de Geraldo de Pina, o turista nacional descobriu Pirenópolis, que por sua vez não se encontrava preparada para acolhê-lo. A cidade vivia um dilema: se por um lado ainda vivia a nostalgia das festas do passado, por outro sentia a cobrança cada vez maior dos novos visitantes. Foi nesse contexto histórico que surgiu, no início da década de 1970, a Goiastur (hoje Agetur), órgãos do governo de Goiás que resolveu interferir diretamente nas Cavalhadas de Pirenópolis. 

     Com a concepção de que as vestimentas dos cavaleiros nada tinham com as cruzadas, principalmente os cristãos, que trajavam fardamento da polícia militar, o governador Irapuã Costa Júnior financiou toda a indumentária dos cavaleiros. Com base num livro sobre vestimentas antigas, reinventaram todo o traje dos cavaleiros. Então encomendaram as roupas às costureiras locais, que foram pagas com a verba estadual. O Estado ainda doou bota, espora, arreio, rédeas etc. Quem correu naquela época, lucrou bastante.

     Essas medidas da Goiastur causaram à primeira vista certa estranheza na população local, tão acostumadas com o tradicionalismo e a imutabilidade de suas tradições. Alguns consideram que tais mudanças foram divisores de águas na fronteira entre as festas do passado, que eram unicamente dos pirenopolinos, com as modernas, feitas para deleite dos visitantes e incrementação cada vez maior da indústria do turismo.

     Atualmente impera a padronização dos uniformes e o luxo exagerado de alguns cavaleiros, que exorbitam em ostentação, como a compra do melhor veludo, pedrarias caríssimas e cavalos de raça. Não sai por menos de 10 mil reais a confecção de uma roupa de cavaleiro em Pirenópolis na atualidade. E se for rei ou imperador, então, esse valor praticamente dobra. Diferente dos antigos cavaleiros, hoje ninguém mais corre se não montar um puro sangue criado em cocheira, o que se converteu num critério de seleção onde os pobres ficam excluídos.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis, uma cidade para o turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
FERREIRA COSTA, Lena Castelo Branco. Arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1970.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis (humorismo e folclore), 1983.
SILVA, Mônica Martins da. A festa do Divino – romanização, patrimônio e tradições em Pirenópolis (1890-1988).

Adriano César Curado

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Festa do Divino 8

Largo da Matriz
tomado pela salão paroquial
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí
 
     Depois de 1958, seguiram-se oito anos sem outra encenação das Cavalhadas, época em que a Festa do Divino de Pirenópolis entrou em acentuado declínio, principalmente por conta do pouco entusiasmo do povo e dos festeiros que se seguiram. Ocorriam apenas a parte religiosa e algumas apresentações de dança ou teatro.

     Era preciso resgatar o explendor e o entusiasmo de outrora. Mas isso dependia de dinheiro e influência, razão pela qual a família Pina se tornou imprescindível no processo de revitalização dos festejos. 

     A mudança então teve inicio quando Mauro de Pina, então com apenas dezoito anos de idade, foi sorteado imperador, já no ano de 1966, ocasião em que não existia mais o velho largo (desfigurado pela praça e invadido por construções), e a encenação das Cavalhadas migrou-se para um espaço na rua do Campo. 

     Era um local improvisado e apertado, nem de longe comparado com o arejado largo da Matriz. O público era separado dos cavaleiros apenas por uma corda e os camarotes se amontoavam no lado contrário ao do sol, enquanto que do lado oposto sobravam vagas.

     A festa de Mauro de Pina foi um grande sucesso. O casarão de seu pai, Lulu de Pina, que fica em frente à igreja Matriz, foi aberto ao povo e ali se serviam refeições e bebidas sem restrição do número de gente. 

     Muitos jovens da época não se lembravam de como eram encenadas as Cavalhadas, dado o grande espaço sem sua apresentação. Tiveram de buscar antigos cavaleiros para que ressurgisse esse grande teatro a céu aberto, e José de Pina continuou como rei mouro, enquanto Fiico da Babilônia era seu embaixador. Havia muito cavaleiro bom naquela nova apresentação, como Joãozico Lopes, Dito Zafá, Felipe etc.

     A Festa do Divino de Pirenópolis, no entanto, chegou ao seu auge com o sorteio de Geraldo de Pina, deputado federal e extremamente influente na infante Brasília, tanto que chegou a levar Juscelino Kubitschek até a cidade. 

     Geraldo foi o responsável pelo novo fôlego da festa, ao promover o início dos festejos com bastante barulho (alvoradas, zabumba e apresentações da Fênix). No dia 24 de maior, sábado do Divino, foi feita uma queima de foguetes nunca vista em Pirenópolis, com uma girândola de 10 mil tiros, além de fogo de artifício e tiros de ronqueira (morteiros). Centenas de meninas vestidas de branco saíram do casarão de seu pai, Lulu de Pina, nos rumos da Matriz.

     Devido à influência obtida nas lides parlamentares, tornou Pirenópolis conhecida por Brasília, e nessa ocasião a pequena cidade se viu invadida, literalmente, por uma assustadora massa de turistas. 

     Isso só foi possível porque, no plano de revitalização da festa, Geraldo tomou a corajosa decisão de puxar a primeiro dia das Cavalhadas para o domingo, o que propiciou oportunidade para que, daquele ano em diante, os turistas pudessem assistir pelo menos um dia de apresentação.

     No ano seguinte, Duílio Pompeu de Pina foi sorteado e continuou a promover a festa no mesmo estilo da nossa safra de imperadores. As Cavalhadas se consolidavam e não mais deixariam de ser apresentadas nos anos seguintes.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis, uma cidade para o turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
FERREIRA COSTA, Lena Castelo Branco. Arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1970.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis (humorismo e folclore), 1983.
SILVA, Mônica Martins da. A festa do Divino – romanização, patrimônio e tradições em Pirenópolis (1890-1988).

Adriano César Curado

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Festa do Divino 7

Largo da Matriz destruído
Invasão do prédio do correio
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí
Solar de Sansa Lopes na atualidade
Local onde os mouros encastelavam
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí


As famosas Cavalhadas de Pirenópolis acontecem exatamente quando findam os festejos religiosos e começam os profanos. No Domingo do Divino ocorre o primeiro dia da encenação das Cavalhadas, com uma batalha campal entre doze cavaleiros cristãos (azuis) contra doze mouros (vermelhos); e depois de várias coreografias, saem os cavaleiros do campo e retornam com um pedido de trégua. No segundo dia, após novos embates, finalmente os mouros sucumbem e são batizados pelos cristão. Daí até o terceiro e último dia, serão apenas carreiras de confraternização e de brincadeiras, como a troca de rosas e a disputa de argolinhas.

Nos dias atuais, as Cavalhadas são encenadas num lugar especialmente construído para este fim e que ficou conhecido pelo horroroso nome de “cavalhódromo”, localizado num antigo campo de futebol, à entrada da cidade, na rua do Campo.

Até o ano de 1958, no entanto, as Cavalhadas eram encenadas no antigo largo que ficava detrás da Matriz e que hoje está tomado pela praça Central, pela casa paroquial e pelo prédio do correio. Os mouros encastelavam-se no lado poente, em frente da casa de José de Pina, que durante muitos anos foi seu rei. Tinham eles vestimentas bastante simples, sem muitos brilhos e adereços, à exceção do rei e do embaixador. Já os cristãos, encastelados do lado nascente, em frente ao solar do Sansa Lopes, trajavam-se de azul, com roupas semelhantes ao fardamento da polícia antiga, com colete e quepe.

Nesta época, as Cavalhadas eram assistidas somente pelos pirenopolinos e não aconteciam com regularidade, pois dependiam da autorização e do ânimo do festeiro. Muitos moradores mais antigos de Pirenópolis afirmam que aquelas Cavalhadas foram as melhores, quer pelo romantismo que as caracterizavam, quer pela inocência daqueles anos, quer pela ínfima quantidade de gente que participava dos festejos de Pentecostes.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis, uma cidade para o turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
FERREIRA COSTA, Lena Castelo Branco. Arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1970.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis (humorismo e folclore), 1983.
SILVA, Mônica Martins da. A festa do Divino – romanização, patrimônio e tradições em Pirenópolis (1890-1988).


by Adriano César Curado

terça-feira, 19 de maio de 2009

Festa do Divino 6

Crianças vestidas de branco
Cortejo imperial de 2009
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí
A congada no cortejo imperial de 2009
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí

Cortejo do imperador rumo à Matriz (2009)
Foto: Arquivo da Biblioteca Pyraí

No sábado da festa, logo após a novena, há o levantamento de mastro na frente da Matriz, com a participação da banda Fênix, e depois todos descem para as margens do rio das Almas, onde ocorre o show pirotécnico. Mais tarde tem apresentação da peça As pastorinhas, no teatro, com regência de dona Ita e seu Alaor.

No domingo do Divino terminam as novenas, instante em que o imperador adentra triunfal na Matriz, acompanhado pela corte que o acompanha dentro dum quadro, ladeado por longos cordões de moças vestidas de branco (as virgens) e acompanhado pela banda de música. Vão à sua frente três bandeiras: a principal trás a imagem duma pompa, símbolo do Espírito Santo; as outras duas, azuis e vermelhas, simbolizam os mouros e cristãos das Cavalhadas.

Quando chega o imperador com a coroa de prata sobre a cabeça e o cetro atravessado rente ao peito, não há pirenopolino que não arrepie, ainda mais se ouve o hino do Divino, que tem a seguinte letra: “Vinde, ó Espírito Divino consolador, descei lá do céu a dar-nos riquezas do vosso amor”. Segue então um longa cerimônia, com missa em latim e acompanhamento da orquestra da banda Fênix. Ao final todos vão para a sacristia da Matriz, onde é realizado o sorteio do imperador do ano seguinte.
Enquanto isso o atual imperador segue para sua casa com a coroa, e somente à noite, depois das Cavalhadas, é que ele voltará à Matriz e passará o reinado para o novo sorteado, numa belíssima e emocionante cerimônia.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis, uma cidade para o turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
FERREIRA COSTA, Lena Castelo Branco. Arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1970.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis (humorismo e folclore), 1983.
SILVA, Mônica Martins da. A festa do Divino – romanização, patrimônio e tradições em Pirenópolis (1890-1988).


by Adriano César Curado

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Festa do Divino 5


     Não há como falar sobre a Festa do Divino de Pirenópolis sem mencionar a peça teatral As pastorinhas. Isso pelo fato de sua importância rivalizar até com as Cavalhadas em importância e respeito. Constitui até hoje uma honra imensa para qualquer família pirenopolina, habitem seus membros ou não na cidade, ter uma moça nos quadros dessa peça singular. 

     Eu mesmo, no início da década de 1990, participei da encenação ao interpretar o personagem Lusbel, que era um demônio. Atualmente a peça está sob a responsabilidade do casal dona Ita e seu Alaor de Siqueira, violinistas de primeira linha, que de tão simpáticos e competentes, já se tornaram ícones da cidade. Merece destaque também a pessoa de Pompeu Cristóvão de Pina, já velho e doente, mas ainda assim persistente no papel de Simão Velho, baluarte da resistência cultural de Pirenópolis.

Adriano César Curado

sábado, 16 de maio de 2009

Festa do Divino 4



     A Festa do Divino de Pirenópolis não seria a mesma sem duas manifestações culturais importantíssimas: a DANÇA e o TEATRO. Desde o século 19 que ali se apresentavam inúmeros espetáculos dessa natureza, em especial durante as comemorações de Pentecostes, quando então ficava ao livre arbítrio do imperador autorizar ou não a apresentação. Mas nem só durante as festas ocorreram encenações desse tipo, tanto que o primeiro prédio de teatro da cidade foi construído ainda em 1860, pelo comendador Manuel Barbo de Siqueira. 

     O segundo teatro foi erguido em 1899 por Sebastião Pompeu de Pina e ainda existe no largo da Matriz, embora completamente restaurado por iniciativa da Sociedade dos Amigos de Pirenópolis (SOAP). 

     Em 1919 o padre Santiago Uchôa levantou o prédio que seria o terceiro teatro local, que mais tarde recebeu o nome de Cine-Teatro Pireneus, na rua Direita, prédio que desabou, virou ruína e mais recentemente também foi restaurado pela SOAP. Todos esses prédios abrigaram muitas peças de dramaturgia e dança, servindo assim como uma espécie de ponto de encontro da população.

     No que se refere à peças teatrais, muitas foram apresentadas durante a Festa do Divino, a exemplo do drama Demofonte (maio de 1837, junho de 1878 e maio de 1969), o drama Aspásia (junho de 1837), o drama Fantasma Branco (junho de 1867 e maio de 1885), bem como Estátua de carne, O poder de ouro e Graças a Deus (em maio de 1874).

     No que diz respeito à dança, podemos ressaltar as danças folclóricas, os torneios de catira, a complicadíssima encenação da contradança com suas fitas multicoloridas trançadas, além das coreografias do congo e da congada.

     Num misto entre o teatro e a dança, a principal manifestação é a peça As pastorinhas, que pela sua importância cultural, merecerá um texto apartado.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971
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Adriano César Curado

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Festa do Divino 3



     Uma festa que merece especial destaque é a do tenente-coronel Francisco Lopes Guimarães (22.05.1836), que faleceu às vésperas do início dos festejos. Conta-nos Jarbas Jayme que “conhecendo estar próximo o seu desenlace, recomendou que não se suspendessem as diversões profanas já programadas. Satisfez-se sua última vontade, porém com a casa de sua residência (...) coberta de fumo (fumaça). Pedro Gonçalves Fagundes se encarregou de apresentar o espetáculo denominado 'Batalhão de Carlos Magno', pela primeira vez realizado em Meia Ponte”.

     Para quem não sabe, “Batalhão de Carlos Magno” era uma peça teatral encenada em algumas localidades goianas no século 19, caracterizada por diálogos e coreografias que representavam batalhas medievais, mais ou menos semelhantes às Cavalhadas, só que a pé.

     Aos poucos a festa tomava ares populares e ia se integrando na tradição local, para logo ser disputada entre os principais expoentes das famílias locais. Provavelmente para evitar atritos políticos, foi instituído o hábito de se realizar a escolha do novo imperador através de sorteio. O sorteado, sempre indivíduos do sexo masculino, que era considerado um privilegiado, já que “escolhido” diretamente pelo próprio Espírito Santo, ganhava o privilégio de ser a figura central da festa. Entre as vantagens que lhe eram concedidas estava o de ter assento de destaque dentro da igreja, o de receber tratamento respeitoso entre seus concidadãos e até de apartar brigas familiares.

     Já no final do século 19, a lista de candidatos a imperador era bastante concorrida e variava entre diversos grupos familiares, como as famílias Siqueira, Sá, Pina, Fleury Curado, Valle, Mendonça etc. Mas não importava quem fosse sorteado, pois toda a comunidade se unia em apoio ao novo imperador e logo todos se punham a trabalhar para o abrilhantamento das festividades de Pentecostes.

Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
SIQUEIRA, Vera Lopes. Datas pirenopolinas. Anápolis: apostila. 1997.



Adriano César Curado

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Festa do Divino 2


     Farei hoje um breve passeio pela história, neste segundo texto sobre as comemorações de Pentecostes em Pirenópolis. Antes de adentrarmos aos festejos propriamente ditos, é preciso recriar a vida na vila de Meia Ponte, naquela primeira metade do século 19, e para isso nos serviremos dos conhecimentos deixados por três viajantes que por lá passaram – Saint-Hilaire, Emanuel Pohl e D'Allincourt. Contam eles que Meia Ponte era o segundo maior núcleo urbano da Província de Goiás, só perdia para a capital Vila Boa, com grande vida social e urbana, além de diversos pontos de efervescência cultural, geralmente dentro das festas religiosas. Já recuperada da decadência do ouro, com um bom comércio favorecido pela posição estratégica, Meia Ponte crescia também com a pecuária e a agricultura.

     Por conta de sua origem bem rural em contraste com a herança portuguesa e as lembranças ainda recentes do garimpo, o meia-pontense criou uma sociedade bem peculiar, fincada em bases paternalista e escravocrata, com grande predominância dos que detinham patentes militares ou eram ligados à Igreja Católica – note que os primeiros imperadores ou eram soldados ou padres.

     É exatamente nesse cenário que surgem as comemorações de Pentecostes no arraial de Meia Ponte. Em sua obra Esboço Histórico de Pirenópolis, Jarbas Jayme conta que o mais distante imperador de que teve notícias foi o coronel Joaquim da Costa Teixeira, cuja festa ocorreu em 30.05.1819, mas não descarta que tenham havido outras mais antigas.

     Por falta de documentação e inexistência de depoimentos de gente que viveu naquela época, não sabemos como foram essas primeiras festas. O certo é que somente em 1826 (14.05), quando foi sorteado imperador o padre Manuel Amâncio da Luz, ocorreram as primeiras Cavalhadas, além da confecção da bela coroa e do báculo, ambos de prata, doados ao patrimônio da igreja Matriz, e que existem até hoje. Naquele tempo, criou-se um hábito que se perpetuaria por mais de século: a distribuição em todas as casas, no domingo da festa, de um prato com pãezinhos do Divino, verônicas e alfenis.

Bibliografia:
D'ALLINCOURT, Luiz. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
POHL, J. Emmanuel. Viagem ao interior do Brasil. São Paulo : EDUSP, 1975.
SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem às nascentes do Rio São Francisco e pela Província de Goiás. São Paulo: EDUSP, 1975.


                       Adriano César Curado

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Festa do Divino



      A contagem regressiva para a Festa do Divino de Pirenópolis já chegou. Logo surgirão as comemorações de Pentecostes, com duração de doze dias e auge no domingo que conte cinquenta dias após a Páscoa. A cidade, então, se enfeitará para as festanças promovidas pelo imperador, que este ano é Marcus Siqueira. Trabalho duro espera o festeiro. Ele tem de coordenar todos os setores da festa, mas também precisa angariar fundos para promover a queima de fogos, o fabrico de comida, lembranças, bandeirolas e outros gastos. Não desembolsa pouco quem deseja se candidatar a tal cargo. Pelo contrário, a soma é vultuosa. Mas há também a solidariedade dos pirenopolinos, que sempre doam o que podem para contribuir com o brilho da festa. Minha avó, por exemplo, tem o hábito de enviar queixos à casa do imperador. Outras famílias confeccionam doces ou salgados. Algumas cozinheiras trabalham de voluntárias no preparo das refeições do pessoal de apoio e também dos cavaleiros das Cavalhadas. Há também os lanches dos atores da peça As pastorinhas.

     Ser um imperador do Divino é uma honra. O processo de escolha é o mais democrático possível, pois os nomes são escritos em papéis, que depois de dobrados e colocados numa caixa, são sorteados por uma criança escolhida à esmo. Pronto, saiu o imperador! O Divino o escolheu! A notícia anda de boca em boca por toda a cidade, e a preocupação geral é – será que fará boa festa?! Há pouco tempo os padres impediam que pessoas fora de seu círculo se candidatassem à vaga, mas hoje isso não ocorre mais, e a escolha é a mais democrática possível. Só falta mesmo uma imperatriz do Divino.

     O atual imperador, pessoa de imenso carisma, é filho de família tradicional, descendente de bons músicos, e receberá com louvor quem o visitar na rua Direita, no casarão que já está de portas abertas para receber o povo. Lá também estão a coroa e o cetro, símbolos do seu reinado sobre a pequena cidade.

     Em consideração a alguns internautas que me enviaram e-mail com sugestão de textos, a partir de hoje vou escrever alguns textos sobre a Festa do Divino de Pirenópolis, na intenção de refletir sobre os fundamentos desse grande acontecimento cultural goiano e discutir sobre seu passado e perspectivas de futuro.

     Viva o imperador!

Adriano César Curado



by Adriano César Curado

terça-feira, 12 de maio de 2009

Apresentação



     Este blogue é dedicado à cidade de Pirenópolis, Estado de Goiás, e tem duas finalidades principais. A primeira é levantar pequenos fatos do passado, aqueles que ficaram despercebidos dos livros de história. A segunda é incentivar discussões sobre a melhoria da qualidade de vida dos moradores e turistas que aqui vivem ou frequentam.

     Muito já se escreveu sobre a pequena cidade encravada ao sopé do Morro do Frota e às sobras da Serra do Pireneus. Mas há ainda bastante novidades para se contar, principalmente no que concerne aos detalhes, minúcias que pouca gente sabe, mas que somados fazem a diferença.

     Tudo que se escrever no blogue e que não parta de exclusiva criação mental minha terá sua fonte citada. Pode acontecer, no entanto, que eu me fie em dados fornecidos por levantamento oral, colhidos dos moradores mais antigos e que vivenciaram os acontecimentos ali narrados.

     Perdoem as imperfeições e falhas, pois elas são fruto das limitações humanas. Torço para que esta simples página na internet possa contribuir para a construção de um mundo melhor.

Adriano César Curado