quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO




O blog Cidade de Pirenópolis deseja a você e sua família um ano novo com fartura de acontecimentos bons e bastante alegria.




Foto: “Mandala”, acervo do Iphan. Artesanato das artistas plásticas pirenopolinas Lunildes e Marta Lobo.



quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

RETROSPECTIVA (III)

Matriz recuperada após incêndio

Os casarões históricos de Pirenópolis têm muitas histórias para contar. Através de suas portas adentraram homens e mulheres que fizeram a história do Estado de Goiás. Pelas suas janelas correu o tempo em molduras de aroeira centenária. Por muitos e muitos anos os casarões permaneceram assim, intocados e conservados tal qual os deixaram nossos antepassados. Mas a cidade cresceu, o modernismo trouxe inovações e uma nova visão do belo. Então derrubaram diversas casas antigas para erigir os mais bizarros e discutíveis estilos; foi quando perdemos prédios importantíssimos para nossa história, a exemplo da bandeirante Estalagem, que ficava na rua Direita, na Baixada da Égua.




Casarão original e preservado na rua Direita



Com o tombamento do conjunto arquitetônico do Centro Histórico, essa onda de demolições foi freada, mas muita coisa já havia se perdido. Esse tombamento (lançamento do imóvel no livro de tombo) não salvou de todo nosso acervo, pois muitos acontecimentos ruins ainda ocorreram após o ato. Houve desastres acidentais, como o incêndio na igreja Matriz, e provocados pelo homem, tal qual a mutilação das fachadas para abrigar lojinhas de artesanato.




Telhado original de casarão na rua Nova



Chegamos ao absurdo de considerar casarão colonial tudo aquilo que tivesse uma porta e janelas de madeira. Paredes de adobe ou pau-a-pique vieram ao chão e foram substituídas por outras de tijolo furado (moradia de cupins), assoalho de tábuas e tijolinhos de barro trocados por cerâmicas modernas, esteios e baldrame de aroeira substituídos por vergalhão e concreto.




Mercado S. José, prédio do século 19, originalmente de adobe e aroeira, demolido e reconstruído com vergalhão de aço e tijolo de concreto




Outra moda ruim que se estabeleceu em Pirenópolis foi a de deixar desabar velhas casas. O sujeito compra um casarão, deixa virar tapera e nas primeiras chuvas tudo vem ao chão. Isso aconteceu este ano com um imóvel bem antigo no centro da cidade e que, extensão dos estragos, mereceu uma matéria neste blog (postagem dia 26.11.2010), uma das mais comentadas.



Casarão na rua Santa Cruz, esteios de aroeira e adobe originais



Aceitem os que possuem casa antiga em Pirenópolis que a aparência dos casarões é tosca, suas paredes são originalmente tortas (embora bastante seguras), sua estrutura de adobe e pau-a-pique é ideal para encaixar nos baldrames de aroeira e seu assoalho de pranchões vale mais que os modernos pisos descartáveis.




Casarão que desabou na rua Matutina é exemplo do descaso com o patrimônio histórico




Recentemente, no entanto, descobriu-se o valor da originalidade, com a valorização do adobe, da aroeira e demais características das casas dos séculos 18 e 19. Essa conscientização foi muito boa para a preservação dos casarões pirenopolinos e deu-lhes um pouco mais de sobrevida, no aguardo de que, num futuro ainda distante, seus habitantes aprendam que, não importa em que tempo vivam, a história sempre será contata através dessas velhas portas e janelas.




A presença do baldrame de aroeira é sinal de originalidade



by Adriano César Curado



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

RETROSPECTIVA (II)

Mascarado original, com máscara de boi, traje refinado, rosas de papel e cavalo enfeitado


Preciosos são os patrimônios material e imaterial de Pirenópolis. No material se incluem as edificações antigas (casarões, igrejas, prédios públicos), o conjunto arqueológico (resquícios das velhas lavras bandeirantes, as ruínas do Abade), as cachoeiras etc. Patrimônio imaterial são as manifestações culturais, como as Cavalhadas, as Pastorinhas, as procissões etc. O somatório de tudo isso é que representa o inventário patrimonial de um povo. Por aí se mede a riqueza de uma região e seu potencial turístico.




Crianças do congo e da contradança compõem o Cortejo do Imperador

Preservar nossa cultura e tradição é salutar para a sobrevivência da cidade. Falta uma disciplina nas escolas locais que ensine a criança a ser pirenopolina. Recebi outro dia um e-mail de um garotinho em agradecimento pelas informações postadas neste blog, e me dizia ele que não sabia quem eram as personagens das biografias (aí incluso o pintor Pérsio Forzani), nem que aqui se chamou um dia Meia Ponte. Pode?!





Mascados sujos de graxa e sem adorno nos animais ameaçam a tradição

A falta de conhecimento das crianças de hoje, no que diz respeito à história e cultura local, põe em risco o futuro e ameaça um dos nossos maiores tesouros, que é a espontaneidade. Pirenópolis é diferente porque suas festas não são espetáculo para turista ver, a população vive com entusiasmo cada manifestação cultural. As famílias se sentem orgulhosas quando uma moça do clã se apresenta nas Pastorinhas, os rapazes seus saem de Mascarado ou compõem o seleto time das Cavalhadas. E não só isso. Têm também as procissões, a Banda Fênix, a de Couro, a Festa dos Pireneus, da Capela etc.




Cortejo do Imperador sai da Matriz


Manter vivas essas manifestações se torna mais difícil a cada ano. E isso ocorre porque falta conscientização do significado de ser “pirenopolino”. A título de exemplo, observe que o número de Mascarados com máscara de boi, uma tradição exclusiva de Pirenópolis, diminui a cada ano. E o que é pior, são substituídos por indecentes transformistas seminus, com o corpo besuntado de graxa, que saem por aí no afã de infernizar a festa alheia. A situação tomou uma proporção tal, que virou caso de polícia. Em 2009 essas pessoas saíram pelas ruas da cidade com uma frauda que mal lhes escondiam as partes íntimas e foram parar na Delegacia de Polícia por ato obsceno. Para evitar que isso se repetisse, em 2010 vestiram um calção, porém meteram uma máscara de pano na cabeça e, com o corpo sujo de graxa, abraçavam quem encontrassem pela frente, além de se esfregarem nas paredes das casas. Isso é cultura?!




A Banda Fênix é forte símbolo cultural de Pirenópolis


Já é tempo de elaborar um inventário cultural da cidade, com vasto acervo focado em pesquisas documentais e depoimentos orais, fotografias, filmagens etc. Nos ensinos médio e fundamental, os alunos terão acesso ao conteúdo desse material e se conscientizarão da importância de manter intactas as tradições que receberam daqueles que os precederam.


by Adriano César Curado


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

RETROSPECTIVA (I)



Eu espero que a cidade de Pirenópolis cresça sempre, mas preserve-se, melhore sem modificar sua essência, amplie-se com responsabilidade e planejamento. Sei que não podemos estagnar no tempo, voltar aos primórdios, quando tínhamos poucas ruas no centro e alguns casebres na periferia. A população pirenopolina aumentou bastante nos últimos anos, deu um salto quantitativo e obrigou a cidade a se estender por lugares antes inabitáveis. Esse aumento populacional se deve, obviamente, ao sucesso do empreendimento turístico. A cidade se torna mais visitada porque aparece em novelas, filmes, documentários, é cantada em música ou descrita em livros. Não é raro ver ônibus de excursões no meio da semana, realidade bem diferente de outras décadas, quando apenas as festas atraíam turistas para cá. Agora tem público todo dia.


Pirenópolis precisa se organizar melhor para receber esses visitantes e ao mesmo tempo manter sua qualidade de vida e preservar sua história e natureza. Não é bom que se construa nos morros que circundam a cidade, pois isso quebra a harmonia do conjunto – faz bem para o pirenopolino olhar, por exemplo, para a região do Frota ou do Santa Bárbara e interagir com o verde onipotente da natureza. Também não se deve edificar nas margens do Almas e córregos que cortam a zona urbana, já que exemplos da resposta da natureza estão todos os dias no noticiário mundial.


Cadê o Plano Diretor? Porque não o publicam e distribuem gratuitamente? Temos que conhecer nossos limites e caminhar com organização e responsabilidade. Não é em qualquer lugar que se pode construir. Nem se deve desrespeitar as regras do tombamento do nosso conjunto arquitetônico. Por outro lado, os responsáveis por fazer cumprir tais regras precisam sair dos gabinetes e interagir mais com a população, conscientizar, ceder em alguns itens para que todos ganhem no conjunto final.


Tenho cá comigo esperança no futuro de Pirenópolis. Sobrevivemos a tantos revezes, isolados e à própria sorte, que seria irônico desaparecermos nestes tempos modernos. Quando digo desaparecer, obviamente, falo do fim do pirenopolino autêntico, que tem no espírito aquele arrepio esquisito cada vez que ouve a banda Fênix ou o soluçar dos sinos das igrejas. Do contrário, seremos apenas fantoches para turista ver, a exemplo de muitos lugares por este Brasil afora.


Este blog é um espaço de esperança. Cada matéria que aqui publico tem a finalidade de salvar um pedacinho da velha Meia Ponte, de acrescentar em vez de destruir, para que as gerações futuras herdem de nós o ouro reluzente do preciosíssimo tesouro cultural.


by Adriano César Curado


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL

Presépio já centenário, de celuloide,
pertencente à família de José de Pina.

A Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música prestou aos negros de Pirenópolis uma homenagem, ao introduzir o professor Manoel Hermano da Conceição entre os seus patronos. Hermano era filho da Luzia, uma ex-escrava muito pobre que morava na rua Direita.




Casarão de Duílio Pompeu, na rua Direita, enfeitado para o Natal.

No meu tempo de menino aqui em Pirenópolis, toda casa tinha presépio, e no Natal todo mundo pintava a frente da casa, capinava as calçadas – eu mesmo capinei muita calçada para ganhar um mil reis e juntar um cobrinho para a noite de Natal. Havia presépios chiques, como o de dona Sinhá de Félix, de Sinhazinha de coronel Luiz Augusto, de dona Sinhá de Quim Gomes, de dona Lalá de Propício, Chico de Sá, Cristóvam de Oliveira – um presépio de Odilon de Pina tinha um monjolinho trabalhando o tempo todo, jogando água pelo calabouço.



Montagem da árvore de Natal em frente à Matriz



E havia o presépio das pessoas pobres, que não podiam comprar animais de celuloide. Luzia, mãe de Hermano, era uma dessas coitadas, mas que montava seu presépio todo ano. Era um ranchinho com o menino Jesus, Nossa Senhora, São José e o jumentinho. Como ela não podia comprar bichos, enchia o vazio com latas de marmelada Peixe e Colombo, plantadas com arroz semeado de véspera. Era aquele verde belíssimo, com Jesus lá no meio do arrozal, deixado na manjedoura.






Luzia espalhava pelo presépio maracujá, espiga de milho, algum doce raro, uma fruta temporã. Sabe para quê? Vender para a gente. Mas ela nunca falava vender, sempre trocar por dinheiro. E esse dinheiro era para comprar o azeite dos candeeiros que iam iluminar o presépio do dia 25 de dezembro a 6 de janeiro, dia de Reis e data de desmontar presépio. Toda noite havia reza do presépio de Luzia.



Manoel Hermano da Conceição (Pirenópolis, 11.2.1888 – 25.5.1967),
Patrono da Cadeira nº 15, da Aplam

Este texto foi baseado numa parte do discurso do professor José Sisenando Jayme, de saudosa memória, pronunciado na fundação da Aplam, no dia 16.4.1994. Naquela memorável noite no Hotel Quinta Santa Bárbara, José Jayme narrou de improviso a biografia de todos os patronos da Academia. Como eu tinha em mãos um gravador, aproveitei para registrar o histórico evento. Quem quiser uma cópia de seu discurso, é só entrar em contato comigo.






by Adriano César Curado


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ÁGUA


As chuvas se firmaram, fortes e sem trégua, marcam o início da estação das águas. Ao mesmo tempo em que o Cerrado se abre em flor, recepciona a dádiva que despenca do céu na forma de bênção líquida.




A cair na região da serra dos Pireneus essa chuva toda se infiltra no chão duro do Cerrado e escoam até um colossal reservatório d’água subterrâneo, para depois essa mesma água escorrer por delicadas artérias e brotar nos olhos-d’água das nascentes nas veredas de buritis.




É o divisor de águas do Planalto Central do Brasil. Do lado sudeste, as nascentes compõem o rio Corumbá, que desagua no Paranaíba, segue pelos rios Grande, Paraná, da Prata, e por fim o oceano Atlântico, entre a Argentina e o Uruguai.




Do lado oeste, as águas formam o rio das Almas, que corta Pirenópolis ao meio e segue para noroeste na direção da bacia do Tocantins, que desagua ao norte do Brasil, foz da ilha de Marajó, no rio Amazonas, depois no oceano Atlântico.




E é tão abençoada por Deus esta Terra dos Pireneus, que por todos os lados jorra abundante, numa hemorragia de vida, esse líquido precioso que desaba por cachoeira espumosa, escorre entremeio as pedras que os bandeirantes escavaram e, num saudoso adeus, vão-se embora por este rio das Almas afora.





by
Adriano César Curado

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Luiz Gonzaga Jayme

 SÉRIE: PATRONOS DA APLAM

LUIZ GONZAGA JAYME
Patrono da Cadeira nº 08
Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música




     Luiz Gonzaga Jayme (Pirenópolis 8.5.1855 – Rio de Janeiro 29.1.1921), foi duas vezes senador da República, desembargador, promotor de justiça, chefe de polícia, professor, advogado e jornalista.

     Era filho do coronel João Gonzaga Jayme de Sá e de Maria Tomázia Batista, casou-se com Maria Augusta Sócrates, em 15.8.1884, deixando: Aníbal Jayme, Múcio Sévola Jayme, Naiá Gonzaga Jayme, Túlio Hostílio Jayme, Marieta Gonzaga Jayme, Dr. Alarico Gonzaga Jayme, Dr. Genserico Gonzaga Jayme, Dr. Luiz Gonzaga Jayme, Ari Gonzaga Jaime e Belti Gonzaga Jayme.



João Gonzaga Jayme de Sá, pai de Luiz Gonzaga Jayme

     Lulu Jayme, como era conhecido em Pirenópolis, era neto paterno do padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury e de Maria Genoveva da Soledade (Inhá Genu). Entre 1862 e 1867 cursou as aulas particulares do professor Braz Luiz de Pina, um homem austero, mas que soube ver em Jayme uma inteligência acima da média. E por isso, no ano seguinte, por indicação do professor Pina, seu melhor aluno matriculou-se no Colégio Senhor do Bonfim, que ficava num casarão ao final da rua Santa Cruz, hoje demolido, dirigido pelo professor Raimundo Henrique des Genettes. Também des Genettes se surpreendeu com a capacidade mental do aluno e o indicou para o Liceu, na Cidade de Goiás, onde cursou humanidades e viu despertar em seu íntimo a paixão pela Ciência Jurídica.


Padre Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, avô paterno de Luiz Gonzaga Jayme



     Gonzaga Jayme retornou então para Pirenópolis e comunicou ao pai que gostaria de cursar Direito. Seu Jayme, seu pai, embora fosse um homem de poucos estudos, lia bastante e queria que o filho adquirisse a cultura que não teve, já que perdeu o pai com 15 anos e teve que trabalhar para se manter. Seu Jayme, então, juntou suas economias e mandou o filho para São Paulo, matricular-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. 

De pé (esquerda p/ direita): Francisco Ayres, Antônio Ramos Caiado, ?
Sentados: Luiz Gonzaga Jayme, Eugênio Rodrigues Jardim,
Hemenegildo Lopes de Moraes e Olegário Pinto.

     Isso mudaria para sempre a vida de Lulu Jayme, pois no prédio do velho convento, onde a faculdade funcionava, fervilhava a vida cultural do país, circulavam periódicos, encenavam-se peças teatrais, surgiam grandes escritores e poetas, por lá passaram Álvares de Azevedo, Castro Alves e Fagundes Varella. Ali também nasceram os principais movimentos políticos da história do Brasil, desde o Abolicionismo de Joaquim Nabuco, Pimenta Bueno e Perdigão Malheiro, ao Movimento Republicano de Prudente de Moraes, Campos Salles e Bernardino de Campos.
    


Inhá Genu, avó paterna de Luiz Gonzaga Jayme

     O agora Dr. Jayme bacharelou-se com louvor em 21.11.1882 e regressou saudoso a Pirenópolis, onde foi recebido com uma grande festa promovida por seu emocionado pai. Na terra natal ficou Gonzaga Jayme no exercício da advocacia e do magistério, até que (em 1884) seguiu para a Cidade de Goiás, então capital da Província, para se tornar promotor de justiça. Em Goiás se casou com sua prima Maria Augusta Sócrates (15.9.1884) e no mês seguinte tomava posse no cargo de juiz municipal de Santa Luzia, depois transferido para Pirenópolis, onde passou a também exercer o cargo de professor do Colégio Ateneu Meiapontense.

Faculdade de Direito de São Paulo no tempo de Luiz Gonzaga Jayme

     A notícia dos conhecimentos jurídicos do Dr. Jayme corriam a Província, ainda tão carente de bons profissionais na área, e em 16.4.1890 assumiu o cargo de juiz de direito do rio Coxim, mas por lá ficou somente três meses, pois como bom profissional que era, foi convocado para o Tribunal de Relação de Goiás (hoje Tribunal de Justiça), cargo que exerceu até 20.4.1892, quando foi nomeado chefe de polícia e ficou no cargo até 31.12.1892. Em 1.1.1893, tomou posse efetiva como ministro do Superior Tribunal de Justiça de Goiás (hoje desembargador) e também tornou-se professor de direito penal da extinta Academia de Direito de Goiás.


Palácio Conde dos Arcos, sede do Senado Federal, 
da Proclamação da República até o ano de 1925,
 numa litografia do século XIX

     Em 1909 aposentou-se como desembargador e passou a se dedicar com afinco à política partidária, sua outra paixão além do Direito. Era ele filiado ao Partido Republicano, mas desejoso de romper o poder da oligarquia dos Bulhões, em 1908 desfilia-se do partido e se torna um dos mentores intelectuais da Revolução de 1909, que depôs o governador Francisco Bertoldo de Sousa e entregou o cargo em 1ª de maio ao seu vice, o coronel anapolino José da Silva Batista. 

     Foi eleito senador da República por dois mandatos (1909 a 1912 – 1912 a 1921), pelo Partido Democrático, onde se destacou seu vasto conhecimento jurídico na elaboração do Projeto do Código Penal da República, como presidente da Comissão Especial. No Senado, era membro das Comissões de Polícia, Constituição e Diplomacia, e de Justiça e Legislação.



Casarão em Pirenópolis onde morou Inhá Genu

     Como jornalista, escreveu para os jornais de oposição “Gazeta Goyania”, “Estado de Goyaz”, “Jornal de Goyaz”, “República” e “Imprensa e Goyaz”. O grande senador morreu assassinado no dia 29.1.1921, na cidade do Rio de Janeiro, por conta dum estúpido crime passional, acontecimento que pôs fim a uma brilhante carreira.


Bibliografia:

ARIMATHÉA, Amador de. Anápolis, sua ruas, seus vultos, nossa história 1830 – 2007. Goiânia: Papillon, 2007.
CURADO, Agnelo A.F. Fleurys e Curados. Goiânia, Editora Piloto, 1988.
JAYME, Jarbas. Cinco vultos meiapontenses. Goiânia, Edição Revista Genealógica de São Paulo. 1943.
JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis. Goiânia, Editora UFG, 1971. Vols. I e II. JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas (Ensaios Genealógicos). Goiânia, Editora Rio Bonito, 1973. Vol. 1.
JAYME, Jarbas. Vale seis! (Críticas genealógicas). Goiânia, Editora Rio Bonito, 1973.
JAYME, José Sisenando. A origem da Família Fleury. Goiânia, Edição do Autor, 1993.
PALACIM, Luis. Goiás 1722 - 1822. Goiânia, Oriente, 1976.
POHL, Johonn Emanuel. Viagem no interior do Brasil. Edusp, São Paulo, 1976
SAINT-HILARE, Auguste. Viagem à Província de Goiás. São Paulo, Edusp, 1976.
SIQUEIRA, Vera Lopes de. Tradições Pirenes., 2ª edição, Goiânia, Kelps, 2006.



FonteSubsecretaria de Arquivo do Senado Federal


Sites: Senado Federal e Wikipedia




Adriano César Curado

sábado, 11 de dezembro de 2010

Grupão Amarelo

Faixa negra na frente do grupão

O Colégio Estadual Joaquim Alves de Oliveira, que os pirenopolinos carinhosamente apelidaram de Grupão Amarelo, fica na praça da Matriz, bem na esquina. Antigamente ali ficava o casarão que pertenceu a Absalão Lopes, proprietário da fazenda Babilônia.




O casarão à esquerda pertenceu a Absalão Lopes
demolido pelo Estado de Goiás para construção do colégio


Recentemente estenderam uma faixa preta com a afirmativa de que o colégio faz parte do patrimônio de Pirenópolis. A princípio não entendi do que se tratava, mas ao ler um artigo de Uiara Pereira de Pina, no Diário da Manhã, dia 29.11.2010, intitulado “E mais uma vez, o que só Pirenópolis pode mostrar!”, é que passei a notar na gravidade do assunto. Segundo Uiara, o colégio será desativado e transformado em um centro cultural. Não entendi bem o que quer dizer “centro cultural”, mas o simples fato de despejar o colégio daquele prédio não me parece correto.




O mesmo ângulo da fotografia do casarão

Eu estudei no Grupão Amarelo por muitos anos, quando cursava o antigo primário (hoje ensino médio), e até trepei numa das árvores do pátio para escapar duma vacinação em massa, daquelas com pistola de ar, que mais tarde foi banida por espalhar doenças.




Cortejo do Divino em frente ao colégio
Foto de 2010, Arquivo da Biblioteca Pyraí


Em minha memória estão muitas histórias ocorridas nos corredores do colégio, e tenho certeza de que praticamente todos os pirenopolinos com menos de cinquenta anos passaram por ali. O Joaquim Alves é da década de 1950, e antigamente era pintado com a cor padrão da Secretaria de Educação, um amarelo meio açafrão, daí ficou o nome Grupão Amarelo.




Escrevo estas linhas com base no diz-que-diz que rola por Pirenópolis e na artigo de Uiara de Pina, mas não sei bem a extensão dos acontecimentos. Se alguém tiver mais notícias, por favor, avise-me para que possa atualizar a página e esclarecer melhor a população.



sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

PIRENÓPOLIS E A FESTA DO DIVINO


Pirenópolis, plácida cidade

de vetustas igrejas, seculares,

goza de edênica tranquilidade

entre jardins mimosos e pomares.


Silente e calmo vai passando o dia

enquanto, quieto, o povo seu labuta.

E na mudez que o espírito alivia,

alguma voz de pássaro se escuta:


foto-pagou – em cima do telhado,

bem-te-vi – na rama do coqueiro.

E lá na torre do sino compassado

fere o tempo, sem dó, o dia inteiro.







Mas quando chega a festa do Divino,

é que se vê a animação do povo:

costureiras folheiam figurinos

e casa moça quer vestido novo.


Cedinho se ouve o ronco da zabumba

– tradição que não fica esquecida

e também a roqueira que retumba

nos cantos da cidade adormecida.


Começam as novenas fervorosas

e a Matriz se aprimora em luz e flores.

Pelos altares, os jasmins e rosas

misturam com o incenso seus olores.





Terno, o Hino do Divino, comovente,

na alvorada se escuta com emoção,

ascendendo um fervor em toda gente

e despertando uma recordação.


Mascarados de pândegas proezas

põem em polvorosa a meninada...

Não existe lugar para as tristezas

durante essa festiva temporada.


Na hora das brilhantes Cavalhadas

cristãos e mouros passam imponentes

com as lanças de fitas enlaçadas,

capacetes e espadas reluzentes.


E pelas ruas vão-se desfilando

– ruas com bandeirolas enfeitadas,

enquanto seus cavalos empinando,

tiram chispas de fogo nas calçadas.







Meninos passam a assoviar, ligeiros

com doces e confeitos em pacotes,

biscoitos e pastéis nos tabuleiros

que vão levando para os camarotes.


Terminadas que são as Cavalhadas

e o reinado dos reis e rainhas,

há mais duas esplêndidas noitadas

das lindas e graciosas Pastorinhas.


E para completar tantas belezas

dessa festa atraente e decantada,

há a boia farta e as vinte sobremesas

da Pensão Padre Rosa, tão falada.


Finda a festa, o sossego prazenteiro...

Na torre – o sino grave, compassado;

bem-te-vi na ramagem do coqueiro;

fogo-pagou – em cima do telhado...





Poema de autoria do poeta pirenopolino Euler de Amorim, de saudosa memória, publicado no livro “Pirenópolis em Versos”, Edição do autor, 2002, ps. 15/6.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Geraldo de Pina

Geraldo de Pina
Fotografia de 1962, Arquivo da Família Pina

     Geraldo d'Abadia de Pina (Pirenópolis, 08.05.1925 – Anápolis, 23.07.1988), engenheiro civil, foi duas vezes deputado federal, presidente das Centrais Elétricas de Goiás e do Departamento de Estradas e Rodagens de Goiás, além de responsável pela revitalização da Festa do Divino de Pirenópolis. Terceiro filho, duma prole de dez, de Luiz d'Abadia de Pina (Lulu de Pina) e de Inácia Lopes, casou-se com Mariana, de quem se divorciou sem sucessão.  Posteriormente casou-se novamente e teve um filho de nome Fabio Lacerda Aragão de Pina. Fez suas primeiras letras com o professor Manoel Hermano da Conceição, na terra natal, e mais tarde se tornou engenheiro civil no extinto Estado da Guanabara, Rio de Janeiro.


Geraldo de Pina e Dona Adelaide, matriarca da Família Jayme-Siqueira
Fotografia de 1968, Arquivo da Família Pina





     Depois de formado, retornou a Goiás e foi para Brasília labutar junto à empresa Cia Planalto, dos Estados Unidos, que construía edifícios na Esplanada dos Ministérios. Nesta época Geraldo de Pina conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira, de quem se tornou amigo, e quem o aconselhou a entrar para a política partidária. Por amizade a Geraldo, JK esteve várias vezes em Pirenópolis e fazia questão de tomar refeição na Pensão Padre Rosa, de Joanito Jayme.


Cel. Achiles de Pina

     Com o término dos trabalhos em Brasília, no princípio de 1959, mudou-se para Goiânia e, por indicação do tio, coronel Achiles de Pina, ocupou a chefia da Secretaria de Viação e Obras Públicas de Goiás (Sevop), no governo de José Feliciano Ferreira. Convidou para auxiliá-lo o amigo e escritor Carmo Bernardes, que trabalhava como jornalista no Jornal Imprensa, de Eurípedes Gomes de Melo.


Ex-governador José Feliciano Ferreira (1916 - 2009)
Governou Goiás de 1959 - 1961
Pirenópolis deve muito à memória desse homem

     A convite do governador, assumiu a presidência da Celg (Centrais Elétricas de Goiás) em 24.11.1959, donde só saiu em 21.12.1961. Nessa época a cidade ainda era iluminada pela velha usina particular de Gastão de Siqueira, que produzia uma luz fraca e amarelada. Geraldo instalou a Celg em Pirenópolis e, na festa de inauguração, José Feliciano, visivelmente constrangido, chamou-o a um canto:

-- Geraldo, mas que situação delicada você meu deixou!
-- Como assim, doutor Feliciano?
-- Que ideia foi essa de instalar poste de cimento em Pirenópolis?
- Qual o problema?
- O problema é que Goiás quase que inteiro tem poste de madeira, inclusive minha terra natal!



Casarão da Família Pina na atualidade
foi palco de muitas festas do Divino

     O mandato de José Feliciano, que se iniciara em 31.01.1959, terminou em 31.01.1961, quando então assumiu o governo de Goiás Mauro Borges Teixeira. Novo pedido de Achiles de Pina manteve Geraldo na Presidência da Celg e, mais tarde, em 21.12.1961, o governador o convidou para assumir a presidência do Dergo (Departamento de Estradas e Rodagens de Goiás – atual Agetop), onde trabalhou na árdua tarefa de alargar e melhorar a péssimas rodovias goianas, cargo que ocupou até o final de 1962.



Luiz d'Abadia de Pina (Lulu de Pina)
Fotografia de 1969, Arquivo da Família Pina

     Em Pirenópolis, Luiz d'Abadia de Pina (Lulu), pai de Geraldo, se elegeu prefeito pela UDN numa votação até hoje sem precedentes, se considerarmos a proporção de eleitores da época. Dos 2 760 votantes, Lulu teve 1 891 votos, contra 672 do adversário. O restante foram votos inválidos. Isso animou Geraldo de Pina, que nunca se esqueceu dos conselho de JK, embora ambicionasse uma árdua tarefa, que era eleger-se deputado federal sem galgar nenhum outro cargo.



Cartaz da campanha de Geraldo de Pina
Arquivo da Família Pina

     Baseado no sucesso eleitoral do pai, Geraldo teve uma ideia. Na Fazenda Chumbado, pertencente à família, organizou uma fenomenal festa. Faixas foram esticadas por toda a rodovia, tanto de Pirenópolis quanto de Goianésia, até chegar à fazenda, com frases de saudação ao povo. Compareceram o governador Mauro Borges, seu pai, Pedro Ludovico, o ex-governador José Feliciano, além de prefeitos de dezenas de municípios goianos. Os pastos no entorno da casa-sede ficaram coloridos de barracas. Para alimentar tanta gente, mataram 11 vacas e 22 leitoas. Geraldo, então, aproveitou para, num discurso emocionado, lançar sua candidatura. O amigo Carmo Bernardo cunhou o slogan: “Pina falou pode escrever”.


Carta de Geraldo de Pina aos pirenopolinos
Arquivo da Família Pina

     Deu certo. Em 3.10.1962, Geraldo é eleito deputado federal por Goiás, pelo Partido ARENA, exonera-se da diretoria do Dergo e se muda para Brasília. Como parlamentar participou em missão oficial a viagens aos Estados Unidos, por ser membro integrante da Comissão Permanente de Transporte, da Câmara dos Deputados. Com o fim do seu mandato (1967), tentou novamente a reeleição, mas a realidade era outra – seu pai já havia deixado a prefeitura; com o Golpe de 1964, Pedro Ludovico perdeu o poder e Mauros Borges foi deposto. Mas não desanimou e ainda com a ajuda de Carmo Bernardes, cunhou outro slogan: “Vamos reeleger quem fez por merecer”. E em seguida endereçou a Pirenópolis uma carta aberta. Conseguiu votos apenas para a suplência, embora pouco mais tarde conseguisse assumir o cargo. Com o fim do segundo mandato (1967-1971), Geraldo já estava farto da política e se dedicou exclusivamente à profissão de engenheiro civil. Fundou a construtora Agroenge, especializada em terraplanagem, iluminação pública e meio-fio. Sua maior obra foi o planejamento e criação do loteamento Anápolis City, hoje um elegante bairro anapolino, cujo rua principal leva seu nome.


Fazenda Chumbado, palco da grande festa da campanha de Geraldo
Foto da década de 1950 - Arquivo da Família Pina

     Além de muitas obras públicas para Pirenópolis, Geraldo de Pina ajudou bastante a cidade na área cultural. O ocorre que, depois de 1958, seguiram-se oito anos sem outra encenação das Cavalhadas, época em que a Festa do Divino de Pirenópolis entrou em acentuado declínio, principalmente por conta do pouco entusiasmo do povo e dos festeiros que se seguiram. Ocorriam apenas a parte religiosa e algumas apresentações de dança ou teatro. Geraldo descobriu que era preciso resgatar o explendor e o entusiasmo de outrora, então a família Pina se reuniu e traçou-se um plano que começou a se efetivar quando Mauro de Pina, com apenas dezoito anos de idade, foi sorteado imperador, já no ano de 1966. Foi um grande sucesso. O casarão de Lulu de Pina, que fica em frente à igreja Matriz, foi aberto ao povo e ali serviram refeições e bebidas com fartura. Muitos jovens da época não se lembravam de como eram encenadas as Cavalhadas, então tiveram de buscar antigos cavaleiros. José d'Abadia de Pina, irmão de Geraldo, era o Rei Mouro, Fiíco da Babilônia seu embaixador, e havia muitos cavaleiros bons naquela nova apresentação, como Joãozico Lopes, Dito Zafá, Felipe, Lalau etc.


Geraldo de Pina imperador de 1969
Ao seu lado, Duílio Pompeu, imperador de 1970

     A Festa do Divino de Pirenópolis, no entanto, chegou ao seu auge com o sorteio de Geraldo de Pina, em 1969, dado à sua influência em Brasília, e ele foi o responsável pelo novo fôlego da festa, ao promover o início dos festejos com bastante barulho (alvoradas, zabumba e apresentações da Fênix). No dia 24 de maio, sábado do Divino, foi feita uma queima de foguetes nunca vista em Pirenópolis, com uma girândola de 10 mil tiros, além de fogo de artifício e disparos de ronqueira. Centenas de meninas vestidas de branco saíram do casarão de seu pai, Lulu de Pina, no rumo da Matriz. Devido à influência de Geraldo como deputado federal, Pirenópolis se tornou conhecida por Brasília e foi “invadida”, pela primeira vez, pelos turistas. Isso só foi possível porque, no plano de revitalização da festa, Geraldo tomou a corajosa decisão de puxar a primeiro dia das Cavalhadas para o domingo, e, daquele ano em diante, os turistas puderam assistir pelo menos um dia de apresentação.


José d'Abadia de Pina
rei mouro que ajudou a reorganizar as Cavalhadas
Foto de 1968 - Arquivo da Família Pina

     Geraldo de Pina morreu em Anápolis na tarde de 23.6.1988, aos 63 anos, vitimado por fulminante infarto. Por iniciativa do governador Marconi Perillo, foi promulgada a Lei 13.633/2000, que denominou “Rodovia Geraldo de Pina” o trecho da GO-338, que liga as cidades de Pirenópolis a Abadiânia.




Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis, uma cidade para o turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
FERREIRA COSTA, Lena Castelo Branco. Arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1970.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis (humorismo e folclore), Edição do Autor, 1983.
SILVA, Mônica Martins da. A festa do Divino – romanização, patrimônio e tradições em Pirenópolis (1890-1988).

Entrevistas:

- João José de Oliveira (aos 90 anos)
- Maria Jayme de Siqueira Pina (aos 87 anos)
- Antônio de Pina (aos 60 anos)
Site:
www.camara.gov.br


Adriano César Curado