terça-feira, 3 de maio de 2011

Casa em Pirenópolis





      Sempre tive vontade de ter uma casa em Pirenópolis, terra de minha mãe, onde vou quase que mensalmente, para participar da reunião da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música. A casa em que minha mãe nasceu, na Rua Direita, construída no século passado, está lá, do mesmo jeito, um casarão de troncos de aroeira, assoalhado, e aquele quintal de invejar diplomatas de Brasília que aparecem por lá, inflacionando o mercado imobiliário.


      Em seu livro, História da Menina de Pirenópolis, publicado em 1991, minha mãe fala de sua casa com ternura e muita saudade. Foi lá que morreu minha avó, em 1919, vítima da gripe espanhola. Comprar essa casa? Nem sonhar. Primeiro, a família proprietária já me descartou a possibilidade; segundo, se por acaso for a venda, um dia, não terei recursos para concorrer com os diplomatas brasilienses.


      Descendente das famílias Mendonça, Amorim, Pereira da Veiga e Nascimento, minha ligação com a cidade tem raízes fortes, históricas, daí a emoção com que recebi, em novembro de 1994, na Câmara Municipal, o título honorífico de cidadão pirenopolino. No longo poema-discurso que fiz, eu dizia: "Nos olhos de minha mãe Celuta/ vejo a saga pirenopolina / tantas lutas!! A casa da Rua Direita plantada à esquerda! de quem chega/ guarda a emoção de um tempo que ficou retido nas paredes de aroeiras/ - troncos seculares sustentando vigas e sentimentos emparedados./ Chego a Pirenópolis como quem chega/ à casa paterna,/ depois de armazenar tantos lustros de emoções e desejos de conhecer o templo/ sagrado de minha mãe".


      Assim, ir a Pirenópolis passou a ser rotina em minha vida, ora hospedava no Pouso do Só Vigário, ora na Quinta Santa Bárbara, era a oportunidade que tinha de rever parentes e amigos, de participar de saraus, de serenatas, enfim, sentindo a sensação de estar pisando nas pedras onde pisaram os pés adolescentes de minha mãe. De tanto desejar um recanto em Pirenópolis, a oportunidade surgiu, agora, quando comprei, em 24 prestações, um pedacinho de terreno - 180 metros quadrados -, onde pretendo, um dia, construir minha casa de "campo", para levar meus livros, meus discos e meu silêncio.


      E o silêncio, que era só meu e de minha família, foi quebrado, para que todo mundo soubesse, pois a notícia saiu no Giro, do dia 31 do mês passado e foi lacônica, dizendo que eu, querendo ser vizinho da família de Valéria Perillo, havia comprado um "terreno espaçoso" em Pirenópolis. Ora, nem sei onde é a propriedade da ilustre primeira-dama do Estado, descendente de tradicional família pirenopolina. A nota do Giro, maliciosa, por certo, foi passada ao Ivan Mendonça por alguém que não anda de bem com a vida, falando pelos cotovelos e botando o olho gordo em tudo. Vacinado contra quebrantos e mau-olhares, vou pedalando meu velocípede de paz até a curva extrema do caminho extremo. Sarava!



Casa dos pais de JMT




(Texto extraído do livro Crônicas de Pirenópolis, de José Mendonça Teles, Goiânia: Kelps, 2008, pp. 83 e verso)

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Adriano Curado