quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pirenópolis, cidade malcheirosa


Não é de hoje o problema do fedor que exala dos bueiros da rede pluvial de Pirenópolis. Isso acontece por três grandes motivos.

Primeiro, o projeto da rede de esgoto não sai do papel. Mudam os gestores públicos, mas a falta de vontade administrativa é a mesma. Ninguém se empenha em dar impulso à monumental obra de furar as ruas, instalar nelas os canos e depois promover a ligação com as casas. Até hoje usa-se a fossa séptica na cidade. Chegou-se a comprar uma área para tratamento dos dejetos colhidos, mas até nisso o projeto peca. O local é próximo à pista de aviação e vizinho de loteamentos populosos. Acredito que assim que começar a funcionar, o sistema será desligado, por conta dos odores desagradáveis.

O segundo motivo, obviamente, vem da falta de educação de alguns. É que certas casas jogam suas águas servidas na rede pluvial, que não foi construída com essa finalidade, e é isso que provoca tamanho fedor em Pirenópolis. O Centro Histórico fede esgoto.

A terceira causa do odor malcheiroso é a inércia da postura municipal. Não é difícil descobrir quem polui a cidade, basta para isso seguir o olfato. Identificado o ponto de emissão do poluente, notifica-se o proprietário. Persistiu, multa. Continua, comunica o Ministério Público ou faz valer o poder de polícia do Município.

Enquanto não se resolve o problema, continuamos a passar por constrangimentos junto aos nossos visitantes. Numa noite linda, a Orquestra Filarmônica de Goiás nos presenteia com músicas maravilhosas e o público torce o nariz para o fedor da cidade.


Adriano César Curado

terça-feira, 30 de julho de 2013

Orquestra Filarmônica de Goiás


Um céu estrelado, uma noite fresca, um público compenetrado. E na lateral da Matriz, ao lado da torre sineira, a maravilhosa Orquestra Filarmônica de Goiás. Pirenópolis recebe um presente para ser lembrado por muito tempo.

Adriano César Curado






Pavimentação da estrada dos Pireneus

No último dia 9 de julho o Prodetur Goiás teve projeto aprovado pelo Mtur, referente à elaboração de pavimentação da estrada do Parque Estadual da Serra dos Pireneus, utilizando materiais resultantes da reciclagem dos resíduos das pedreiras.

O valor total dos recursos é de R$ 338.684,21, sendo o valor de repasse do MTur de R$ 321.750,00. O restante é referente à contrapartida da Goiás Turismo.

A implantação da estrada do Parque Estadual da Serra dos Pirineus terá grande impacto para a economia e o desenvolvimento da região. O início da execução do convênio está previsto para o final deste mês, com término em julho de 2014.

A utilização de resíduos reciclados das pedreiras será uma opção também economicamente vantajosa, dada a menor distância de transporte dos materiais para a obra. O momento também é favorável, pois existe um compromisso federal de melhorar a infraestrutura para o turismo em municípios próximos às sedes da Copa de 2014.

A Serra do Pirineus abriga as cabeceiras das bacias Amazônicas e do rio da Prata. Sua biodiversidade, típica do bioma Cerrado, é protegida por importantes instrumentos de desenvolvimento turístico: Parque Estadual, Área de Proteção Ambiental, Geoparque dos Pirineus e Corredor Ecológico Pireneus-Paranã.


Texto extraído do site Agita Pirenópolis

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Casas de letras e afins

Sempre que vejo pessoas – especialmente os da arte – criticarem os grupos sociais de modo pejorativo (“panelinha” é o termo mais corriqueiro), menosprezo o comentário. Explico: o bicho sapiens é dado, sim, a associar-se por suas afinidades e (ou) necessidades. Foi por isso que surgiram as tribos, os clãs, as associações, clubes e sindicatos, os aglomerados a que chamamos de vilas, povoados, cidades e, por fim, as províncias e os estados. Logo...

Por razões óbvias, os clubes (ou associações) de que mais participei e participo são os de letras. Não que tenha deixado de compartilhar de outras entidades, como clubes sociais, associações profissionais e me apegado a dois times de futebol (essa paixão nacional que é quase unanimidade), mas o ofício da escrita sempre me puxou com mais força.

Houve a União Brasileira de Escritores de Goiás, aonde fui levado pelo presidente (1977) Miguel Jorge; depois, tornei-me membro da diretoria e até presidente; depois, veio a Academia de Letras e Artes de Caldas Novas (1990), seguida de perto pela Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (1994) – destas, participei dos trabalhos de fundação. Em 1996, fui eleito para a Cadeira 10 da Academia Goiana de Letras (vaga surgida com o falecimento do inesquecível amigo Carmo Bernardes, justo ele que me estimulou a integrar a AGL).

Em 1998, quando ainda presidia a UBE, fui honrado com o título de Membro Correspondente da Academia Piracanjubense de Letras e Artes; esta entidade tem a mesma idade de sua co-irmã de Caldas Novas, isto é, foi fundada também em 1990. E, mais recentemente, com consumação neste ano de 2013 (o convite para integrá-la veio em 2012), passei a integrar o quadro de membros efetivos da Academia Aparecidense de Letras, na vizinha Aparecida de Goiânia.

Vejo as casas de letras nos municípios do interior como expressões grandiloquentes de suas sociedades. É nelas que se agitam os pensamentos e os ideais, são redutos onde se exercitam a criatividade e o amor à comunidade (naturalmente, ao próximo), na busca quixotesca da valorização da comunidade. Por integrar a Academia de Pirenópolis (berço natal de meu pai), senti-me enaltecido como cidadão literário dali; como se não bastasse, acabei vice-presidente e, em seguida, presidente da entidade; e a Câmara Municipal de lá destacou-me com um título emocionante – o de cidadão honorário. A APLAM está um tanto adormecida, mas alguns acadêmicos movimentam-se para reativá-la; falta apenas que a atual presidente se decida por acolher a iniciativa desses lutadores – ou a entidade pode vir a “abater colunas”.

sábado, 27 de julho de 2013

Acervo de Jarbas Jayme

Jarbas Jayme

Jarbas Jayme deveria estar entre os maiores genealogistas do Brasil, pois dedicou toda a sua vida aos arquivos goianos. Nasceu na fazenda Água Limpa, município de Pirenópolis, no dia 19 de dezembro de 1895, e faleceu em Anápolis, no dia 21 de julho de 1968. Sua obra, Famílias Pirenopolinas, em seis substanciosos volumes, edição póstuma, mostra o fôlego e o amor à história desse notável meia-pontense, que pertenceu ao Instituto Genealógico Brasileiro e ao Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.

E coube ao Instituto Histórico receber, recentemente, o acervo do ilustre pesquisador, depois de uma troca de correspondência com seus familiares. O acervo estava na casa da Rua Direita, em Pirenópolis, onde ele viveu. E agora, com o novo prédio do Instituto e a inauguração da Sala Jarbas Jayme, foi possível trazê-lo para Goiânia. Os documentos estão sendo organizados e catalogados pela restauradora e pesquisadora Alzira de Miranda, num trabalho meticuloso e demorado. Além de objetos pessoais, sapato, bengala, óculos, chapéu, constam do acervo inúmeras fotografias, muitas delas com molduras, obras publicadas e inéditas do autor; cartas, cadernos de anotações, máquinas de datilografia, vários livros de história, documentos de pesquisas, cadeiras e uma rústica estante.

Casa em Pirenópolis onde morou Jarbas Jayme

O interessante é a carta testamento que enviou, no dia 14 de abril de 1967, ao seu tio Joanito enumerando vários itens que deveriam ser cumpridos, após sua morte, entre eles, que não lavasse o seu cadáver, "pois reputo refinada tolice essa prática". E mais: ''Dispenso recomendações e missas. São invenções humanas, verdadeiras fontes de rendas clericais. Não lhes dou crédito. Deus, infinitamente reto e misericordioso, far-me-á justiça".



Esses documentos, depois de devidamente catalogados, serão colocados à disposição do público interessado em conhecer o universo de um dos mais notáveis pesquisadores goianos. Ao solicitar à família a doação do acervo para o Instituto Histórico motivou-me o desejo de universalizar a obra de Jarbas Jayme, abrindo um espaço para preservação de sua memória, onde todos, estudantes, professores e historiadores possam conhecer de perto a vida e a obra do ilustre pirenopolino.

Escritor José Mendonça Teles

Goiás muito deve a Jarbas Jayme. Alguns reconhecimentos foram sacramentados: a rodovia (GO 431) que liga a BR(153) a Pirenópolis, e em Goiânia, o Centro de Formação de Professores, no Setor Sudoeste; e a minipraça existente na Rua 85, no cruzamento da Rua 105, levam o nome de Jarbas Jayme.

Veio de Pirenópolis para Goiânia o acervo físico – bens materiais – do grande genealogista goiano, mas a sua alma. suas emoções, seus sentimentos, estão bem plantados em Pirenópolis, a terra que lhe serviu de berço.

José Mendonça Teles


Fonte:
TELES, José Mendonça. Título: Acervo de Jarbas Jayme. Revista Meya Ponte, Pirenópolis, v. 1, , n. 7, p. 31-32, 2000.

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Festa da Capela tão simples e bela...!


Pintura de Sérgio Pompeo

Como toda família pirenopolina, a minha também sempre esteve presente na Festa da Capela do Rio do Peixe. A mãe de minha avó Maria, bisavó Adelaide Jayme, acampava lá todos os anos. Na verdade, dona Adelaide era uma devota fervorosa de Senhora Santana e por isso fazia questão de comparecer todos os anos à festança à beira do corgo Caxiri. 


E por ir lá todos os anos, minha bisa fez muitas amizades, foi madrinha de casamentos da roceirada que ia à Capela com suas mulas de carga ou carros de bois. Por final das contas, ela tinha mais de cem afilhados de batismo.

Adelaide Jayme Siqueira

Há inclusive uma história interessante envolvendo dona Adelaide. Contam que ela batizou uma criança, que nunca mais viu. Passado o tempo, eis que bate palmas à porta de sua casa em Pirenópolis, lá na rua Aurora, uma moça feia e desengonçada. Era uma das afilhadas lá da Capela. Conversa vai, conversa vem, dona Adelaida diz:

Minha filha, como sua madrinha nunca lhe deu presente algum, quando você se casar, lhe darei o enxoval completo.

Não precisa, madrinha.

Faço questão. Uma moça bonita e formosa como você merece um enxoval bonito.

Quando a moça se foi, minha tia Inácia, que morava com a mãe, disse:

Que é isso, mãe. Ficou doida? Um enxoval completo fica muito caro.

Não se preocupe, minha filha, essa mulher horrorosa jamais vai encontrar um noivo.


Estava enganada. No ano seguinte, lá na festa da Capela, dona Adelaide se encontra com a afilhada de mãos dadas. Uma interrogação na testa, olhares trocados com Inácia, e eis que vem a bomba:

Bença, madrinha.

Bençoi – respondeu seca.

Esse é o meio noivo, vamos nos casar pro ano que vem. A senhora está lembrada da promessa?

Córrego Caxiri

Dona Adelaide faleceu em 1980, mas minha avó Maria continuou a peregrinação da mãe, de modos que nós, seus netos, íamos todos os anos acampar aos pés de Santana. Eram umas barracas coletivas, de tecido claro que encardia aos poucos naquela poeira vermelha e que não conseguiam conter a ventania gelada da madrugada. 


Naquela época, não havia banheiro na Capela, os banhos eram improvisados e a comida nunca saía na hora certa. Mas ainda assim era maravilhoso acampar ali.


Adriano César Curado

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Comendador Cristóvão José de Oliveira e a Romaria dos Pireneus

Celebração da missa de 19 de julho de 1927. 
Da esquerda para direita: ajoelhado, 
o comendador Cristóvão José de Oliveira 
e de costas, celebrando a missa, o padre Santiago Uchôa

A coluna nesta edição visita a bela história sacra da família Oliveira de Pirenópolis, especialmente iniciada com o comendador Cristóvão José de Oliveira que em 19 de julho de 1927 protagonizou a conhecida Romaria dos Pireneus, quando foi celebrada pela primeira vez no Brasil pelo padre Santiago Uchôa, uma missa a uma altitude próxima a 1390 metros. Posteriormente, no local da celebração da missa, o comendador Cristóvão José de Oliveira ergueu uma capelinha em homenagem ao Divino Pai Eterno.

Desde então, até os dias de hoje, é mantida a tradição pela família Oliveira, de no mês de julho, na primeira lua cheia, acampar nas encostas que dão acesso à capelinha para realizarem confraternização familiar e religiosa. São celebradas missas na capela de baixo “Nossa Senhora”, localizada na base do pico e na capela de cima, “Divino Pai Eterno”, no núcleo mais elevado dos Pireneus.

Foi por causa da sua religiosidade, da sua humanidade, do seu incansável filantropismo em prol da fé católica que Cristóvão José de Oliveira recebeu do Papa Pio XII, a Comenda São Gregório Magno.

Ex-prefeito de Pirenópolis, habilidoso carpinteiro e marceneiro, o município guarda em sua memória arquitetônica, o seu talento de construtor como a Casa da Câmara Municipal e Cadeia, construída em 1919 e que hoje abriga o Museu do Divino Espírito Santo.

Nascido em Pirenópolis, no dia 12 de setembro de 1882, na sua terra natal, faleceu em 24 de março de 1969.


Matéria de autoria do historiador Ubirajara Galli publicada no Caderno DM Revista, do jornal Diário da Manhã, 21.7.2013, p. 6.

Acervo de Joaquim Henrique de Sá

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Orquestra Filarmônica de Goiás


Conforme a programação acima, no dia 30.07.2013, às 20h, na Praça da Matriz, a Orquestra Filarmônica de Goiás, que foi fundada pelo pirenopolino Braz de Pina, se apresentará no encerramento de sua turnê estadual. Vale a pena conferir, será uma linda noite.

Adriano César Curado

terça-feira, 23 de julho de 2013

O entardecer


Este casarão foi construído pelo saudoso maestro Joaquim Propício de Pina, no século dezenove, e hoje pertence ao dr. Valdemar de Carvalho. Neste flagrante, o entardecer derrama sua luz envelhecida sobre a antiga sede da Banda Fênix de Pirenópolis.

Adriano César Curado

Feira de Arte Cultura e Gastronomia


Pirenópolis na visão de Rosenwal Ferreira


Pergunta ao Governador Marconi Perillo: para que serve a Agência Estadual de Turismo?

Segundo informações confiáveis, a Agência Estadual de Turismo, Goiás Turismo, não é um mar de rosas e está sempre à beira do caminho esperando um comboio de verbas que não chegam na hora certa. Ninguém duvida que se trate de um osso duro de roer. Entretanto, nada justifica a abismal falta de empenho de quem aceitou o encargo de administrar o segmento em terras do cerrado.

Se não é possível incrementar produtivas estratégias capazes de nos tirar de um cansativo marasmo, o mínimo que se pode exigir é a manutenção adequada das estruturas que ainda atraem turistas para o Estado de Goiás. Não é o que está acontecendo.

Vamos tomar como exemplo a bucólica Pirenópolis -- ícone de atração em Goiás que se ergue na majestade de serras e cachoeiras -- que atualmente se derrete num incompreensível descaso. A começar que não existem placas indicativas capazes de levar o viajante de Goiânia até os limites do lugarejo. A não ser pelos que já conhecem o trajeto, nenhum forasteiro tem condições de chegar ao local sem perder. O mínimo que se pode exigir são orientações básicas. Será que o digno Aparecido Sparapani (presidente da agência) nunca se dirigiu até Pirenópolis para constatar essa necessidade?

Como as quedas d’água representam a maior atração do quadrilátero, era de se esperar que o pequeno trecho de estradas no Parque Estadual dos Pirineus, que agrega também restaurantes e múltiplos campings, fosse uma joia a alardear pelo Brasil e pelo mundo, o zelo do Governador Marconi Perillo. Bobagem, a estrada é um salseiro de buracos e armadilhas capazes de destroçar qualquer veículo.

Nota-se que não existe uma sintonia entre a prefeitura e a Agência de Turismo. O barulho de carros de som é um inferno que afasta as famílias e elimina qualquer possibilidade de sossego. A fiscalização é de uma precariedade que assusta. A maioria dos campings opera na sujeira, sem agentes capazes de impedir danos ao meio ambiente.

Apesar dos esforços do policial Dias e seus colegas de farda, o reduzido contingente lotado no município torna impossível conter os abusos do bando de jovens alcoolizados que se juntam na zorra do final de semana. Resultado: o que devia ser uma comunidade tranquila enrasca- se numa folia que podia ser evitada com planejamento estrutural. Algo péssimo para o turismo de alta rentabilidade.


Pois é. Por esses, e outros exemplos até piores, fica uma pergunta: Para que serve a Agência Estadual de Turismo?

Matéria publicada no jornal Diário da Manhã do dia 18.7.13, p. 4.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Uma festa perto do céu


Pintura de Sérgio Pompeo retrata com perfeição a festa


“De um grupo de pirenopolinos, chefiado por Cristóvão José de Oliveira e sob as bênçãos do inesquecível padre vigário Santiago Uchôa, partiu a iniciativa da construção de um santuário no pico mais elevado dos Pireneus.

Primeira missa no Morro dos Pireneus - 1927

"No dia 19 de julho de 1927, com a assistência de trinta e cinco pessoas, foi rezada, por aquele saudoso padre vigário, a primeira missa naquelas alturas.


Segunda Missa no Morro dos Pireneus - 1928

"No primeiro altar temporário, via-se a seguinte expressão: Christus heri, hodie et in secula. O atual está colocado sobre um maciço de pedra e cimento.

Procissão da Santíssima Trindade aos Pireneus - julho 2008

"Na ocasião da primeira missa, por sugestão de Cristóvão José de Oliveira, aceita por todos, inclusive pelo padre vigário, ficou resolvido que a festa em homenagem à SS. Trindade se realizasse no plenilúnio de julho.

Primeira Capela construída nos Pireneus
Década de 1930

"A segunda missa (que já teve caráter de romaria e com aprovação da autoridade eclesiástica) foi rezada ao pé do cruzeiro, no dia 5 de julho de 1928 (plenilúnio).

Paisagem avsitada do alto dos Pireneus - junho 2004

"No dia 6 de abril de 1929, erigiu-se, no pico do meio, o cruzeiro que lá se encontra e, no dia seguinte, levantou-se outra cruz, já agora no pico mais baixo, em homenagem às três pessoas da SS. Trindade.” (Jarbas, Esboço.. pp. 547/9).


Fotografia da Comissão Cruls

Com essas palavras de Jarbas Jayme, nosso brilhante historiador, inicia-se este artigo, que pretende contar um pouco da Festa do Morro, que já completa 86 anos de tradição. E por ser realizada em altitudes tão elevadas, tal festa sempre me pareceu muito perto do céu.

Largo do Bonfim - reunião para procissão
 até o Morro dos Pireneus julho 2008

Localizado a 20 KM de Pirenópolis, o Pico dos Pireneus tem 1.385 metros de altitude e é o ponto mais alto da região, que é divisora das águas de duas importantes bacias hidrográficas da América do Sul: a Platina e a Tocantinense. Berçário de espécimes raros, o local tornou-se Parque Estadual em 1987, com área de 2,833,26 há. Mas bem antes disso, em 1892, por lá passou a Comissão Cruls para demarcar o quadrilátero do Distrito Federal.

Meio de transporte usado
para se chegar à Festa na década de 1950

A Festa do Morro esteve muito ligada à história da minha família. Meus pais acampavam lá quando eu era criança. Tudo era improvisado, do banho à comida. Minha mãe mandava uma costureira fazer pijamas de flanela grossa, com direito a gorro e pompom na ponta, mas de tamanho exagerado para minha altura, que era para não perder: “Criança cresce rápido” – justificava. Eu ficava com vergonha daquele pijama imenso, mas de madrugada, quando a temperatura caía, agradecia o cuidado de minha mãe.

Imagem da Santíssima Trindade
a ser transportada em procissão até os Pireneus
Julho 2008.

Depois eu cresci e passei a acampar ali com os amigos. Tinha noitadas de violão ao redor duma fogueira, causos de assombração, pegadinhas. No dia seguinte, ainda cedo, alguém propunha subir nos picos mais baixos e a gente sempre se arrependia porque o caminho é difícil.

Cristóvão de Oliveira no acampamento
da Festa do Morro - década de 1960

Teve um ano que o saudoso Maurício Lopes (Maurício da Babilônia) foi festeiro e fez uma festa parecida com a do Divino. Teve foguetório, banda, catira. Ele mandou matar um boi e serviu carne assada e cerveja a noite toda para o povo. Nunca mais houve uma festa assim.

Festa do Morro - década de 1970

Não gosto de subir no pico da capelinha, tenho receio de alturas. Um ano vi um moço, acho que era o Luiz de Maura de Dona Sinhazinha, escalar aquela antena que há lá em cima e sentar-se no seu topo. A estrutura de metal balançava para lá e para cá e eu pensava: “Meu Deus, ele é louco”.

Início da procissão em direção aos Pireneus - julho 2008

 Quando anoitece, dá para ver as luzinhas de muitas cidades, inclusive Brasília. E logo vem a majestosa lua cheia impor sua soberania sobre a noite. Nesse momento, o vento geladíssimo nos confidencia que devemos descer, e então notamos que já está escuro e que as pedras traiçoeiras nos convidam ao abismo! Sinistro, mas é assim que eu sempre me senti.

Estrada percorrida para se chegar à Festa
Década de 1930

Este ano a Festa do Morro ocorrerá entre os dias 22 (lua cheia) a 26 de julho. A fiscalização no local é rigorosa, principalmente depois de um incêndio que começou num acampamento há pouco tempo e destruiu grande área do parque. Haverá proibição de fogos de artifício e som automotivo. Quem desejar acender fogueira terá que seguir regras de segurança.

Adriano César Curado

Última participação de Christóvam na
Festa do Morro - final da década de 1960

Fonte:

CURADO, Glória Grace. Pirenópolis; Uma Cidade para o Turismo. Goiânia: Oriente, 1980
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Goiás Humorismo e Folclore. Edição do autor: 1990.

A Festa do Morro – Pirenópolis/GO. Artigo de Tereza Caroline Lôbo e João Guilherme Curado, publicado em http://festaspopulares.iesa.ufg.br/pages/3741, acessado em 18.07.2013.
Minhas próprias recordações.

Fotos: sobre as imagens aqui publicadas, as antigas pertencem à família de Cristóvão José de Oliveira. As da procissão são de autoria de João Guilherme Curado.

Festa do Morro - década de 1960


Bispo Dom Emanuel Gomes de Oliveira e
frei Tobe no alto de um dos três picos dos Pireneus
Década de 1930

O bispo Dom Emanuel Gomes de Oliviera,
Pedro Ludovico Teixeira presentes na
Festa do Morro na década de 1940

Procissão da Santíssima Trindade aos Pireneus - julho 2008

Capela nos Pireneus - década de 1930

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