sexta-feira, 5 de julho de 2013

César Roquete de Amorim

SÉRIE BIOGRAFIAS

CÉSAR ROQUETE DE AMORIM


César Roquete de Amorim (Pirenópolis 19.01.1867 – 09.08.1925) foi um homem do campo, de hábitos simples, que sabia levar a vida com alegria e entusiasmo.

Casou em 08.10.1900 com sua prima Maria das Dores de Pina (filha de Francisco Herculano de Pina e de Bárbara Generosa da Veiga). Ficou viúvo e casou pela segunda vez, em 28.09.1912, com Hosana de Siqueira (filha de Manuel José de Siqueira e Rosa Gomes da Silva), com tem teve as filhas: Hosanny, Belisária e Rosa.

As filhas Belisária, Hosanny e Rosa


Sobre ele encontramos o seguinte relato no livro Terra Branca Terra Vermelha, de Maria Adélia Mendonça Arantes:

“Quem visse o tio César perto dos irmãos pensaria que eram estranhos. Ele era um verdadeiro homem do campo. Madrugador, trabalhador sem se importar com a saúde. Era paciente, tinha a fala mansa e gostava da gente por causa de minha mãe, que ele adorava.

Eu cresci de uma vez, era magra e pelo drama da morte de minha mãe e pela gripe espanhola que tive, sofria um fastio horrível. Eu também não conseguia dormir. Revia o sofrimento de minha mãe, ela suplicando a Dr. Olavo para não deixá-la morrer. Vivia tudo de novo. Comecei a ter batedeira, tristeza, vontade de chorar sem motivo. Cheguei a pensar que estava sofrendo do coração. Papai levou-me ao médico e ele disse que era da idade. Tio César foi lá em casa um dia e falou para meu pai que eu precisava tomar ar puro; que me deixasse passar uma semana na sua chácara; que ele me levaria e que papai poderia buscar-me depois. Fui contente com ele. Ele tirava leite cedo e levava para mim, na cama, uma caneca de leite espumoso com canela, açúcar e um pouquinho de conhaque. Nos primeiros dias fiquei meio tonta, depois me acostumei. Ele me falava:

— Levanta, preguiçosa, vai até p'ra lá da casa do carro tornar sol.

César, Hosana e as três filhas


Eu sentia uma dor nas pernas que me dava desânimo de andar. Dava uma voltinha e quando chegava, estava pondo a alma pela boca. No começo não tinha apetite. A tia Hosana, que era boa demais, fazia uma comidinha gostosa, fazia um mexidinho na panela e dava capitão (dava com a mão pra gente comer) para mim e para as filhas dela. Eu comecei a alimentar-me melhor, a ter mais apetite. Meu pai esteve lá e levou-me um preparado com ferro. Tio César dizia-me:

— Você estava parecendo uma estaca, feia e magra, mas agora já tem uma corzinha,

Se eu pudesse ter ficado lá mais uns dez dias teria voltado melhor. Com o remédio, a dor das pernas acabou e tive mais apetite. Tio César queria que eu ficasse mais tempo, mas não podia. Minha avó estava sozinha com as meninas e precisava de mim. Quando eu era menor, meu tio falava:

— Maria, vamos pra chácara, os pés de amendoim estão grandes e os amendoins sequinhos. Quando bate o vento faz um barulhinho assim: chuím, chuím, chuím.

E eu, bobinha, acreditava.

Hosana já quase centenária

Pouco tempo depois, tio César começou a ficar doente, a passar mal, sem nunca procurar um médico. Vovó Bili, preocupadíssima, contou para tio Lulu, que o levou para Araguari e deixou-o aos cuidados de Dr. Adalcindo e Dr. Odilom. Quando voltou, ninguém o reconhecia: daquele velho doente, voltou um César alegre, contador de piadas, que gostava de agradar as crianças com frutas madurinhas, cana já cortada em gomos e doces. Voltou sadio, com novas ideias, pensando em contratar pessoas para ajudá-lo na tiragem do leite, na plantação de horta e preparação dos queijos. Durante dois anos tio César passou bem. Mas os médicos já haviam avisado aos seus irmãos que, quando voltasse a crise, poderia ser fatal. E foi o que aconteceu. Ele aproveitou bem o tempo, fez o que queria, deu muito gosto para a família.”

Depois de sua morte, a viúva, Hosana, morou certo tempo sozinha com as filhas na chácara, onde chegou a matar uma onça quase dentro de casa. Após isso, achou prudente mudar-se para a Pirenópolis. Inexperiente, confiou seu patrimônio a quem não devia e acabou sem nada. Ao falecer morava de favores na casa da filha Hosanny. 

Eu a conheci já bem idosa, pois ela morreu quase centenária. Adorava seus causos antigos e também seus docinhos, que ela chamava de caramelos.

Adriano César Curado

Fonte:
JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas (Ensaios Genealógicos). Goiânia, Editora Rio Bonito, 1973. Vol. 1.
ARANTES, Maria Adélia Mendonça. Terra branca, terra vermelha. Rio de Janeiro: Editora Galo Branco, 2007.

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