sábado, 26 de outubro de 2013

Os senhores do ouro

 Quando, na primeira metade do século dezoito, foi encontrada a partícula de ouro às margens do Rio das Almas, logo a notícia correu longe. Para cá vieram grandes levas de garimpeiros, gente sem compromisso com nada além da ganância da fortuna instantânea. 

Eles eram qual nuvem de gafanhotos: baixavam num lugar, sugavam todos seus recursos naturais, depois partiam e deixavam a terra esgotada. Essa era a realidade protagonizada pela grande maioria de garimpeiros, a massa dos aventureiros que vivia em trânsito entre minas com prosperidade.


A Igreja Matriz de Pirenópolis
Mas para cá veio também uma minoria de "empresários" organizados, proprietários de centenas de escravos e com influência junto à corte portuguesa. Ele se utilizavam dos conhecimentos dos engenheiros de minas, possuíam concessão de cartas de datas minerais, pagavam com regularidade o quinto para a coroa etc..


A Igreja do Bonfim foi construída a mando de Antônio José de Campos

Qual ocorre com todo garimpo, o daqui também entrou em decadência. Nesse instante, aquela grande massa a que me referi logo juntou as tralhas e partiu. Era de se esperar uma debandada geral, com o consequente desaparecimento da povoação de Meia Ponte, como ocorreu em diversos outros lugares. Só que isso não aconteceu, pois muitos já haviam fixado residência definitiva às margens do Rio das Almas.


Garimpo no Rio das Almas
E por que aqueles pioneiros ficaram por aqui? Essa é uma pergunta que me intrica. Os senhores do ouro já haviam obtido lucro suficiente para arcar com as dívidas do empreendimento e já podiam retornar para casa. E mais ricos do que chegaram. Mas ainda assim não se foram. 


Um dos primeiros casarões de Pirenópolis

Aqueles homens muito ricos, com forte influência na corte, eram em sua maioria portugueses, e trouxeram de longe a família. Provavelmente ratearam entre si os recursos para a construção de um templo da proporção da Matriz de Pirenópolis e contribuíram também para a melhoria da vida na povoação.

A chegada das raríssimas mulheres brancas em Meia Ponte deve ter sido um grande acontecimento. Depois mandaram levantar sólidos e espaçosos casarões que muito lembravam as aldeias além-mar.


Casarões conjugados: a técnica é herança portuguesa



Esses pioneiros nunca mais voltaram para casa, e aqui se estabeleceram em definitivo. Casaram os filhos, ocuparam cargos públicos, ajudaram a consolidar Goiás no mapa do imenso Brasil, que naquele tempo era apenas uma colônia portuguesa.


Esta pode ser a casa mais antiga de Pirenópolis

A pergunta, no entanto, persiste: por que decidiram um dia ficar por aqui? Vou especular. Embora Meia Ponte fosse um garimpo agitado, desorganizado e local de muitos crimes, Portugal também não era lá essas maravilhas. Apertado no mapa da Europa entre vizinhos fortes e ambiciosos, o império português estava sempre de sobreaviso. O rei Dom João V era perdulário, sem noção de administração, e gastou uma fortuna na construção de obras monumentais, como o Convento de Mafra. Havia também a sombra do santo-ofício a espreitar, sorrateiro, e por muito pouco a Inquisição julgava e condenada alguém em processos inquisitoriais.


A Igreja do Carmo
Do lado de cá do Atlântico, dentro do sertão dos Goiases, Meia Ponte estava longe demais para sentir o eco desses problemas. E depois que passou a "febre" do garimpo e o povoado foi esvaziado, firmou-se uma sociedade mais tranquila, ordeira e tradicional.


Adriano Curado

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