segunda-feira, 29 de junho de 2015

Um casamento em Pirenópolis





O propósito era fazer diferente, isto é, unir-se formalmente pela Lei dos Homens e sob as de Deus, mas sem os signos e marcas dos segmentos religiosos convencionais. Assim, convidaram-me para celebrar essa união, que se deu num dos mais aprazíveis ambientes deste Planalto Central, sob a égide da Poesia e, obviamente, do Amor que os motiva (L.deA.). 







Lorena e Ricardo, 20/06/2015

Estamos juntos nesta tarde de sábado, dia 20 e é junho, atendendo ao chamado de Lorena Fernandes Gomes e Ricardo de Pina Freitas, esses jovens lindos e amorosos que, encantados numa noite pelos sons do ambiente, na harmonia musical dos cantadores destas terras dos Pireneus, decidiram unir suas vidas. E fazem isso evocando o nosso testemunho, para nossa alegria, envolvendo-nos em sua história.
...

Eu sei, como poucos, o quanto nos encantam os sonhos destas serras e cachoeiras. Não somente pelo cantar dos pássaros ou o esturro das onças que povoavam as matas em nosso redor, não apenas pela cascatas que cantam, sob o arranjo do vento nas folhagens e no troar das chuvas. Há o Sol e a Lua, astros atrevidos aos nossos olhos e sentidos. O resultado é a sugestão das artes, desde a mistura das cores e formas sob os pincéis e os cinzéis, tão familiares ao grande santeiro Veiga Valle até os mais sensíveis olhos e ouvidos de tantos nativos e visitantes, adventícios e passantes.

Esta terra, no sopé dos Pireneus de Goiás, atrai viajores eventuais e, sobretudo, os voluntários, os que aqui vêm para confirmar nossas práticas, nosso folclore, nossas artes e nossas vidas – e muitos tornam-se parte delas, sim!

Das artes plásticas aos registros documentais e poéticos, das histórias contadas e dos versos cantados, aparece a música – a mais expressiva dentre todas as artes, no conceito deste poeta – que é o referencial maior na história de Pirenópolis das ruas tortas e dos luares de tantos sonhos e delírios!


E voltando a Lorena e Ricardo, sinto que as palavras trocadas após o cruzar de olhares, gestos e presenças, essas coisas costumam seguir-nos nas horas seguintes, embalam nosso sono e muitas vezes invadem os nossos sonhos.
Foi assim com eles, sem dúvida!

A gente sabe, a lembrança fica forte no dia seguinte, e dela, dessa lembrança, nasce a vontade do reencontro. E este, quando se dá, semeia no peito da gente a semente do doce, do meigo e do amor.

E foi assim! Alguns encontros mais, a certificação da alegria e dos prazeres, a sinceridade de propósitos, a comunhão de ideias e planos... Até que, poucos meses depois, dá-se um grande momento – precisamente no dia 9 de março – em que o moço olha com doçura e firmeza no olhar da moça e lhe pede: “Namora comigo!”...

Ela não vacila, põe mais brilho no belíssimo olhar e aquiesce.

As conversas seguintes são mais sólidas e profundas, nenhum dos dois oculta mais o desejo de consolidarem-se, de comungarem suas vidas. Quem sabe não é tempo de se pensar num futuro longo e promissor, com o propósito de lançar ao futuro a continuidade de suas origens?

Ora! Tudo isso está no ideal das pessoas e define-se no mais importante livro da Civilização Ocidental – a Bíblia – quando conceitua a “continuidade das espécies” num modo poético e universalmente apreciado, que o poeta traduz assim:

Juntou Deus a água ao pó, e fez-se o barro. 

Soprou Deus a escultura e fez-se o Homem.


“Deixará o homem o pai e a mãe e se unirá a sua mulher e se tornarão uma só carne”. Lorena e Ricardo buscam, juntos, esse caminho: o da feitura de “uma só carne” a partir de sua união.

Nada mais justo, nada mais limpo e lindo que isso: a união de gêneros e sexos, com afeição sincera e lealdade recíproca. Lorena traz consigo projetos e sonhos, que absorve em amor, porque é de amor que se faz a vida. E, certamente, a vida, agora nova, há de se expandir para ela e Ricardo: “Uma só carne”, como preceitua o texto bíblico.

Fiat pax” (faça-se a paz) entre os gêneros, porque é nosso propósito a harmonia dos seres com o almejo à reprodução e à boa formação moral e intelectual, saudável e duradoura dos nossos frutos.


Quando os nossos corações pulsam, pela nossa sobrevivência, ou se aceleram pelas nossas emoções, repetem a energia que imprime a música de todos as coisas. Cada um de nós é peça de uma grande máquina chamada universo, mas nada é mais importante para cada um de nós do que nós mesmos – até que encontremos alguém cujo olhar invade o nosso, cujas palavras se confundem com as nossas e nossos pensamentos começam a parecer iguais. É o amor que nasce!

O amor é grande, muito grande! O que nos cabe é pequenino e pouco; se nos parece grandioso é porque nossas forças são limitadas, mas somos indispensáveis a nós mesmos e aos que nos são mais próximos – especialmente aos que nos são queridos, como os que aqui estão em regozijo com este propósito de Lorena e Ricardo.

Somos, então, seres sensíveis e racionais, ativados por um espírito que nos induz e nos conduz a um constante aprimoramento social e moral. Não nos unimos em matrimônio sob o êmulo das riquezas materiais, mas pela ânsia de melhor fazer pelos que nos são pósteros e, de um modo egocêntrico, mas não egoísta, de também crescermos.

Hoje, o móvel de Lorena e Ricardo é o amor. E, ao se unirem, fazem-no com preces ao Criador, pedindo-Lhe que lhes fortaleça esse amor. E que lhes proporcione a paz para a tolerância ante suas diferenças.

Que Lorena e Ricardo tenham também, sob a luz do Pai Criador, otimismo para vencer os dias e seus testes, o futuro e suas surpresas. Sejam abençoados, pois, para alcançar, se não todos, os principais sonhos dessa união.
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“O maior compromisso no amor é ser feliz sem receio”, canta em sua mais recente canção, em parceria com Paulinho Pedra Azul, o nosso Pádua Cantador – e essa música me foi mostrada por ele ontem, é muito nova!

Acrescento ainda que o amor é o desejo de se possuir o que é bom.

O amor é o desejo do belo, ele é delicado, é virtuoso... O amor é poeta!

Mas é preciso ter cuidado... O amor pode deixar entrar o ciúme – e o ciúme costuma matar o amor! Quem ama confia. E o amor vira flor, o amor cria asas e nos leva longe e alto!

Abençoe-os o Pai dos Homens, dos bichos e das plantas, das águas e das montanhas, dos horizontes visuais e dos nossos sonhos.

Que assim se faça!

* * *
 
Texto do escritor Luiz de Aquino Alves Neto

Prefeitura notifica contribuintes para que regularizem seus débitos municipais

A Prefeitura de Pirenópolis, através da Secretaria Municipal de Administração e Finanças, com intuito de solucionar de forma amigável e extrajudicialmente, convoca todos os contribuintes que estão com débitos inscritos na Dívida Ativa Municipal, relativos ao período entre 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2014, a comparecer ao Departamento da Dívida Ativa e Coletoria, ambos na Secretaria de Finanças, para negociação. O contribuinte, ou seu representante, deverá estar munido de documentos pessoais (CPF e Carteira de Identidade) no máximo até o dia 31 de agosto de 2015, em horário de expediente.

O edital de notificação já se encontra disponível no Portal da Transparência – Edital de Notificação  de Dívida Ativa.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Postais do passado

Os ternos e românticos postais do passado. Traduziram o pensamento de uma época e se transformaram em uma singular forma de relacionamento entre as pessoas, há mais de cem anos. Eram lindos, com paisagens e pessoas, lugares; em grande maioria, bordados com flores e com enternecidas dedicatórias que eternizaram sentimentos. Esse, abaixo, é de 1919, de Antonio Americano do Brasil dedicado à sua futura esposa, Mirtes Caiado de Castro, na Cidade de Goiás. Há um dizer profundo, de "para sempre", que, infelizmente, muito pouco tempo depois se desfez, por conta da enfermidade do infeliz escritor e médico; seu retorno para o sertão goiano e sua morte prematura, por mãos assassinas. Mas há, indelével, nesse postal, em minhas mãos, um "para sempre" sentido na tessitura da emoção daquela hora. Que as lembranças dos velhos e esquecidos postais nos aqueçam, também, o coração nesses tempos do frio laconismo da comunicação virtual, tão rápida e efêmera pelo toque do "delete". Outros tempos...

Bento Fleury

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Imagens da Festa do Divino 2015 (parte 1)

















Cerveja com arte


O artista pirenopolino Sérgio Pompêo de Pina Júnior, membro da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música, vai assinar a arte da nova linha de bebidas da Cervejaria Bohemia! 


Festa do Divino revela uma Pirenópolis autêntica e colorida

Em Goiás, a tradicional festa católica mantém participação popular, e mostra também um lado mais profano, com forró e muita cachaça

Cerca de 20 fiéis levantam o mastro com a bandeira do Divino, em frente à Matriz de Nossa Senhora do Rosário (Foto: Haroldo Castro/Época)

 A missa das 19 horas na igreja Nossa Senhora do Rosário terminou. Vinte homens estão a postos em frente à Matriz. Carregam nas mãos longas varas brancas de três metros. A missão do grupo religioso é levantar um mastro pintado de vermelho e branco, ainda deitado na grama. Não é tarefa fácil. Com a multidão que rodeia o evento, não há espaço para erro.

O buraco está preparado e a base do mastro está próxima à posição de encaixe. A bandeira benzida durante a missa é amarrada na ponta do mastro. O pavilhão do Divino Espírito Santo mostra uma pomba branca, envolta por um círculo amarelo dourado e cabecinhas de anjos.

Os homens levantam a ponta do mastro onde está a bandeira. Quando já não conseguem alcançar com as mãos, passam a usar as hastes brancas para erguê-lo. Algumas das varas terminam em forma de forquilha e escoram o tronco, não deixando-o sair do lugar. Outras possuem uma ponta, como se fosse uma lança, que é espetada no mastro.

A bandeira vai ganhando altura. O grupo de levantadores do mastro aproxima-se da base. O ângulo de apoio é menor, todo cuidado é pouco. Lentamente, a base do tronco desliza e se encaixa na fenda. A multidão aplaude e a bandeira do Divino Espírito Santo, a 20 metros de altura, reina sobre a cidade.

Depois do mastro ser hasteado, uma enorme fogueira é acessa ao lado da igreja iluminada por luzes azuis e vermelhas (Foto: Haroldo Castro/Época)

 Apesar do hasteamento da bandeira ter acontecido no sábado 23 de maio, a festa do Divino começou 15 dias antes. Na sexta 8 de maio, centenas de tropeiros vieram à cidade para dar início ao Giro da Folia. Durante nove dias, os foliões visitam fazendas da região, onde são recebidos com fartos cafés-da-manhã, almoços e jantares.  Alguns dos pousos chegam a receber 10 mil pessoas. O trajeto tem seu sentido religioso, com momentos de orações.

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De origem açoriana, a Festa do Divino remonta às celebrações religiosas portuguesas do século 19. Em Pirenópolis, chegou em 1819 com os jesuítas, que usaram o festejo para catequisar índios e negros. Hoje, em sua 197ª edição, a Festa do Divino engloba Giros de Folia, Reinados, Alvoradas, Novenas, Congadas, Pastorinhas e as famosas Cavalhadas.

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Há quem diga que a festa perdeu um pouco de seu caráter religioso e que muitos só pensam na algazarra. No entanto, o que vimos nesses dias foi uma comemoração muito autêntica, com moradores locais totalmente envolvidos. A Igreja Católica continua a manter um papel fundamental e as principais celebrações acontecem dentro ou em frente à Matriz, uma construção em estilo colonial datada de 1728.

O Imperador da Festa do Divino João Geraldo Costa Pina segura sua coroa de prata, datada de 1826. Acompanhado de sua esposa, a Imperatriz Inácia, o casal sai pelo pórtico da igreja Nossa Senhora do Rosário (Foto: Haroldo Castro/Época)

Na manhã seguinte, estamos de volta à Matriz para acompanhar o cortejo que traz o Imperador à missa matinal. A procissão é um dos momentos mais emblemáticos da Festa do Divino. Ao som da banda local Phoenix – que existe há mais de 120 anos – a família do Imperador segue até a igreja Matriz.  Ele vem acompanhado pelo Cortejo das Virgens, um grupo de meninas pirenopolinas vestidas de branco, representando a pureza.

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A comitiva é aberta por um conjunto de antigas bandeiras do Divino e por quatro grandes flâmulas do Espírito Santo. A procissão é escoltada por milhares de pessoas e constantes explosões de rojões.

O Imperador João Geraldo Costa Pina e sua esposa Inácia seguem em procissão até a igreja Matriz de Pirenópolis (Foto: Haroldo Castro/Época)
Quatro meninas do Cortejo das Virgens levam o símbolo do Divino pelas ruas empedradas de Pirenópolis (Foto: Haroldo Castro/Época)
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Quatro flâmulas abrem o cortejo que levam o Imperador pelas ruas da cidade colonial (Foto: Haroldo Castro/Época)

 O candidato à Imperador precisa ser um homem católico praticante. Seu nome é sorteado pelo padre, um ano antes da festa. Embora seja uma representação, o título de Imperador não é uma figura meramente simbólica. Ele é reverenciado por toda a comunidade e precisa ser um exemplo de conduta. Responsável por organizar as celebrações, deve arrecadar os fundos necessários.

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“Imperador que não tem amigos está perdido,” diz João Geraldo. “Recebi boas colaborações em dinheiro, quatro bois e um porco”. Em 2015, a Festa do Divino custou cerca de R$ 400 mil.

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João Geraldo é uma pessoa de bom coração e muito religioso. “Ter o nome sorteado significou para mim que o Espírito Santo tinha me escolhido para ser o Imperador. No dia, chorei de emoção”, afirma. “O Imperador precisa ter humildade e ser educado e pontual. Não devemos jamais guardar rancores.”
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No cortejo de volta à residência do Imperador, uma das Virgens carrega uma bandeira do Espírito Santo (Foto: Haroldo Castro/Época)

 A procissão regressa à residência do Imperador. Milhares de pessoas acompanham a caminhada de quase um quilômetro pelas ruas empedradas da cidade. O quarteirão em frente à casa de João Geraldo é isolado pela Polícia Militar.

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A multidão se aglomera para tentar receber um pacotinho de Verônicas.  O doce de açúcar, embalado em um véu branco com fitinha vermelha, é distribuído às virgens e a outras crianças. Nesse ano, foram preparadas mais de 8 mil Verônicas.
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Um anjinho que participou do Cortejo das Virgens recebe um pacote com três Verônicas (Foto: Haroldo Castro/Época)

 Precisamos de alguns dias para entender a complexidade da Festa do Divino. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, é difícil montar o quebra-cabeça de todos os elementos que fazem parte do festejo, como as procissões de Reinado e a participação das Congadas. Sem contar que o mais colorido está ainda por acontecer: as Cavalhadas de Pirenópolis com seus mascarados arruaceiros!
Parte integrante da Festa do Divino, na segunda e na terça-feira duas procissões de Reinado honram Nossa Senhora do Rosário e São Benedito (Foto: Haroldo Castro/Época)
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O Capitão das Congadas Benedito Teodoro dos Santos participa da Festa do Divino desde os 14 anos de idade. Em 2016, completará 50 anos de festejos (Foto: Haroldo Castro/Época)

Matéria de autoria de Haroldo Castro publicada na Revista Época, 29.05.2015