sexta-feira, 22 de março de 2013

Luís Cruls


SÉRIE BIOGRAFIAS

LUÍS CRULS



Luiz Cruls (Diest, Bélgica, 21/1/1848 - Paris, França. 21/6/1908)

Louis Ferdinand Cruls (Diest, Bélgica, 21.01.1848 — Paris, França, 21.06.1908) foi um astrônomo que trabalhou a maior parte de sua vida no Brasil, tendo baseado em Pirenópolis durante a demarcação do Distrito Federal.

Tornou-se conhecido como Luís Cruls aqui no Brasil. Na Bélgica, sua terra natal, cursou a escola de engenharia civil da Universidade de Gand. Entrou para o exército daquele país como aspirante de engenharia militar, alcançando em um ano os postos de primeiro e segundo tenente.

Dieste, onde nasceu Cruls

Serviu o exército belga de 1869 a 1872. Em 1874 pediu baixa e veio para o Brasil. Foi membro da “Comissão dos Trabalhos Geodésicos no Município Neutro”, de 1874 a 1876.

Em 1875 publicou em Gante um trabalho sobre métodos de repetição e reiteração para leitura de ângulos, o que lhe credenciou a ser admitido como Adjunto no Observatório Imperial do Rio de Janeiro. Estudou o planeta Marte e, em 1882, observou o trânsito de Vênus na cidade chilena de Punta Arenas. Em 1877, publicou um estudo sobre a organização da Carta Geográfica e da História Física e Política do Brasil.

Antigo Observatório Astronômico do Rio de Janeiro

Em 1881 aceitou o cargo de diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro.

Em 1892 foi-lhe cometida a incumbência da exploração do Planalto Central do Brasil e chefiou uma equipe de cientistas que estudou a orologia, condições climáticas e higiênicas, natureza do terreno, qualidade e quantidade de água etc. da área do Planalto Central, onde seria construída a capital Brasília, em 1960.


Uma cratera de Marte foi batizada em sua homenagem.



A Comissão Cruls

A famosa Comissão Cruls, que demarcou a área do Distrito Federal, manteve sua sede na cidade de Pirenópolis, de onde saiu em diversas excursões de mapeamento da região. Embora sua história seja bem vasta, neste texto procuraremos resumi-la à nossa cidade, e tratar apenas da primeira missão.

O presidente Floriano Peixoto resolveu cumprir um dispositivo constitucional que previa a mudança da Capital Federal e por isso enviou ao Congresso Nacional uma mensagem. Em 1892 o Congresso Nacional aprovou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que era composta pelo engenheiro Luís Cruls, de origem belga, diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, e outros 21 membros, entre cientistas, técnicos e militares.


Fotografia da Comissão Cruls

A missão partiu do Rio de Janeiro em junho de 1892. Seguiu por ferrovia até Uberaba, ponto final dos trilhos da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, e depois continuou a cavalo e mulas até Pirenópolis. Nas bruacas e baús levavam aproximadamente dez toneladas de bagagens e equipamentos que transportavam em 206 caixotes e fardos recheados com barracas, armas, mantimentos e instrumentos científicos (dois círculos meridianos, teodolitos, sextantes, micrômetro de Lugeol, luneta astronômica, heliotrópios, cronômetros e relógios, seis barômetros de mercúrio sistema Fortin e onze aneróides, bússolas, podômetros, diversos instrumentos meteorológicos, câmaras fotográficas com seu respectivo material de revelação e uma pequena oficina de aparelhos mecânicos destinados ao conserto dos instrumentos que viessem a sofrer algum acidente).

No casarão rosa hospedou-se Cruls
Hospedaram-se esses homens num casarão na Rua Direita e foram muito bem recebidos pelos pirenopolinos da época. De presente à cidade, em retribuição à hospitalidade, doaram uma planta baixa muito bem elaborada.


Fotografia tirada debaixo da jabuticabeira no casarão da rua Direita

Em Pirenópolis Cruls dividiu o pessoal em duas turmas, com o objetivo de percorrer o planalto a ser explorado por dois caminhos diferentes. A primeira turma, chefiada pessoalmente por ele, seguiu diretamente para Formosa. A segunda, que passou por Corumbá, Santa Luzia (hoje Luziânia) e Mestre d’Armas (hoje Planaltina) e posteriormente também chegou a Formosa.

Fotografia da Comissão Cruls

A equipe trabalhou mais de um ano em minuciosas medições, até que fincou quatro marcos delimitadores, denominados de Retângulo Cruls, com área de 160 por 90 km, e englobava as nascentes das bacias do Amazonas, São Francisco e Paraná.

Fotografia da Comissão Cruls

Quando finalmente retornou ao Rio de Janeiro, já tinham se passado treze meses de viagem. Organizou-se uma concorrida exposição na sede dos Correios e Telégrafos onde foram exposto mapas e fotografias, além de amostras do solo, da flora e da fauna do Planalto Central do Brasil.

Fotografia da Comissão Cruls
    
Cruls apresentou seu relatório ao Governo Federal e ele foi publicado no Diário Oficial da União em junho de 1893. A partir de então, o Retângulo Cruls passou a figurar em todos os mapas do Brasil. Posteriormente, foi escolhida uma área bem menor, mas dentro da demarcação anterior, onde se encontra atualmente o Distrito Federal.

Fonte:
JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis, vol. I, Goiânia: Editora UFG, 1971.
Planalto Central do Brasil - Coleção Documentos Brasileiros-Livraria José Olympio Editora-1957.



Site:

Detalhe de um atlas escolar luso-brasileiro de 1927, quando não existia Goiânia e a ferrovia terminava antes de Bonfim (Silvânia). Anápolis era Santa Anna; Luziânia, Santa Luzia e Planaltina, "Mestre d'Armas". A área prevista para o Distrito Federal era bem maior que a atual e incluía até Corumbá e Formosa.

* * *

5 comentários:

  1. Excelente a sua matéria, uma verdadeira aula de história.

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  2. Gostei do texto, uma certidão de nascimento de Brasília!

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  3. A Missão Cruls merece ser melhor estudada pelos brasileiros para que se tenha noção de como era o interior brasileiro no final do século XIX. Ademais, foi o começo de uma arrancada na conquista do grande continente: A MARCHA PARA O OESTE. Base para a ocupação de nosso território. Brasília representa o ápice deste empreendimento e, com certeza, foi o acontecimento político mais importante do século XX.
    e-mail: edirmeirelles39@gmail.com

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  4. Realmente, não entendo a falta de menção (ou a falta de destaque, quando mencionam) nas escolas a essa expedição, da qual surgiram diversos aspectos importantes e determinantes de nossas identidades cultural e política atuais. Alguns temas da BNCC podem até serem interpretados como fazendo menção a essa expedição, mas, na prática, em sala de aula, raramente o são. Por quê?

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